Sem pagamento de royalties, plantio de soja OGM reduz em 15% custo de produção em MT
2005-02-16
Com uma redução de cerca de 15% no custo de produção, a primeira experiência legal, com o plantio de soja geneticamente modificada, realizada no ano passado, trouxe para prática a possibilidade de plantar bem e gastar menos. A dobradinha de sucesso fez o interesse pela transgenia aumentar e na atual safra, o Estado colherá, com o aval do Ministério da Agricultura, cerca de 1,2 mil toneladas (t), em pouco mais de 44 mil hectares plantados (ha).
Em percentuais, a produção corresponde a aproximadamente a 8%, das 16 milhões/t estimadas para o ciclo 04/05 e cerca de 1,5% da área plantada estadual.
Ontem, a Delegacia Federal de Agricultura (DFA), ratificou a notícia que o Diário publicou no último final de semana, de que o plantio cresceria em torno de 2,300%. Até a última sexta-feira, 85 Termos de Compromisso e Ajustamento de Conduta (TCRAC), de 67 diferentes produtores de soja, espalhados em 22 municípios do Estado, haviam dado entrada na DFA. Ano passado, de maneira legal, por meio da assinatura do Termo, 11 produtores mato-grossenses totalizaram 1,7 mil ha da variedade modificada.
O chefe do Serviço de Desenvolvimento Rural da Delegacia, Luiz Henrique Gonçalves Pires, explica que o volume refere-se apenas aos documentos recebidos na DFA. — Acredito que alguns termos estejam em trânsito — observa.
Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Homero Pereira, o crescimento da área transgênica no Estado, surpreendeu. — Sabíamos que pelo fato de haver uma Medida Provisória legalizando a produção, daria guarida aos produtores que já estavam testando a variedade na clandestinidade, mas eu apostava em um aumento de cerca de 1000%, os 44 mil ha surpreenderam — avalia.
Para Pereira, a explicação pelo interesse em cultivar a soja transgênica e a vontade de deixar a clandestinidade foram motivados pela constatação da redução entre 10% e 15% do custo de produção - variando de acordo com o volume de área semeada - e pela confirmação de que o nível de rendimento por hectare é praticamente o mesmo da lavoura convencional, 3 mil quilos por ha plantado. — Por enquanto, com estas experiências da safra passada e sem o pagamento dos royalties, torna-se vantajoso seu cultivo, principalmente em tempos de crise. Afinal, quem vai decidir o que vai vingar no mercado, serão os próprios consumidores. O que temos é uma tentativa natural de minimizar custos, mas de manter a produtividade e qualidade, porque precisamos produzir — assevera Pereira.
O presidente chama a atenção também, para o fato de que, o rendimento mesmo sendo satisfatório, está se originando de sementes não adaptadas ao Cerrado. — Acredito que em dois ou três anos, quando as pesquisas e a legislação ofertarem material em escala comercial, os resultados sejam melhores ainda — completa. A semente utilizada pelos mato-grossenses vem em geral da Argentina e do Rio Grande do Sul, indicadas para clima temperado.
Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja), e também ex-governador do Estado, Rogério Salles, esse crescimento gigantesco reflete a falta de informação que houve no ano passado: — Na safra passada houve sub-informação e receio de muitos produtores em revelar o plantio transgênico. Qualquer tentativa de mensurar volumes de área ainda é chute, com relação a este assunto, mas ainda acredito que deve ter mais gente com lavouras de um ou dois hectares, que preferiu não declarar — argumenta.
Salles confirma, que pelo que tem ouvido, — a redução de custo é a principal alternativa para a viabilidade econômica da cultura, sem sombra de dúvidas.
(Diário de Cuiabá, 15/02)