Projeto estuda uso de microalgas para transformar os gases nocivos em oxigênio e matéria orgânica vegetal
2005-02-14
Organismos cujo tamanho é cerca de mil vezes menor do que um grão de areia podem se tornar heróis no combate mundial ao efeito estufa. Capazes de transformar gás carbônico em oxigênio e matéria vegetal (biomassa) com rapidez e em larga escala, as microalgas são o foco de uma pesquisa da Fundação Universidade Federal de Rio Grande (Furg). O projeto pretende utilizar as algas microscópicas para captar o CO2 emitido pela queima de carvão em usinas termelétricas.
Há oito anos, o Laboratório de Engenharia Bioquímica da Furg estuda o cultivo de microalgas para uso no combate à desnutrição e à poluição ambiental. Segundo o professor Jorge Alberto Vieira Costa, que coordena o projeto, os organismos, encontrados em águas doce e salgada são responsáveis por cerca de 70% do oxigênio gerado na atmosfera. - Pela fotossíntese, elas usam a luz e o gás carbônico como combustíveis, produzindo oxigênio e se multiplicando, ou seja, gerando biomassa - explica Costa. Um convênio assinado pela Furg com a Eletrobrás e a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE) vai estudar a viabilidade de implantação de uma planta-piloto na usina Presidente Médici, em Candiota. O investimento da Eletrobrás na primeira fase será de US$ 100 mil, com apoio de pessoal e tecnologia da Furg, e infra-estrutura e recursos humanos da CGTEE. O acordo, que durará um ano, teve início em fevereiro com a coleta e o estudo em laboratório de microalgas nativas da região onde a usina está instalada. É um trabalho minucioso, já que as algas só podem ser vistas ao microscópio. - Queremos conhecer as espécies da região para avaliarmos qual absorve maior percentual de CO2, tem maior resistência e como age em relação aos demais gases da combustão - acrescenta Costa.
Se os resultados forem positivos, a segunda fase do projeto entra em funcionamento com a instalação de uma planta piloto com tanques de microalgas na usina Presidente Médici e com a canalização dos gases para os fotobiorreatores (tanques). Em nível mundial, pesquisas assim só estão sendo desenvolvidas nos Estados Unidos, no Japão e na Itália. Neste último, há uma planta piloto em funcionamento. Segundo o chefe do departamento de Meio Ambiente da CGTEE, engenheiro Francisco Porto, a busca pela produção de energia limpa norteia pesquisas no mundo inteiro. A emissão do CO2 é o maior problema enfrentado na queima do carvão para a produção de energia. Já existe tecnologia para deter a poluição de outras substâncias resultantes do processo, como o enxofre, mas para o CO2 ainda não. - Caso o Brasil consiga colocar esse projeto em prática, será um referencial - diz. (ZH/Eureka)