Guerra da Amazônia cala mais uma voz de defesa da floresta
2005-02-14
A missionária americana Dorothy Stang, 73 anos, foi assassinada neste sábado de manhã com 3 tiros no Travessão do Santana, município de Anapu, no Pará, 16 anos depois da morte de Chico Mendes. O crime aconteceu quando irmã Dorothy, como era conhecida, seguia para o Projeto de Desenvolvimento Sustentado (PDS) Esperança, junto com mais companheiros. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, estão em Anapu desde sábado (12/02).
A ministra Marina Silva, que estava em Porto de Moz participando de reunião para implementação da reserva extrativista Verde para Sempre, afirmou que não há relação direta entre a criação da resex e o assassinato de irmã Dorothy, mas que o crime pode ser uma tentativa de intimidar o governo federal em sua política de criar áreas protegidas e fortalecer as comunidades tradicionais da Amazônia. Emocionada, Marina Silva disse que o governo não vai recuar e nem ser intimidado por criminosos. - O sangue da irmã Dorothy vai regar a reserva Verde para Sempre, declarou. A ministra disse ainda que já pediu investigação rigorosa do governo do Pará, inclusive com a participação da Polícia Federal.
Irmã Dorothy vivia há mais de 30 anos na região da Transamazônica e dedicou quase a metade de sua vida a defender os direitos de trabalhadores rurais contra os interesses de fazendeiros e grileiros da região. Desde 1972, ela trabalhava com as comunidades rurais de Anapu pelo direito a terra e por um desenvolvimento sem destruição da floresta. Trabalhava intensamente na tentativa de minimizar os conflitos fundiários, principalmente a grilagem de terras e a extração ilegal de madeira. Por causa disso, chegou a ser acusada, em 2001, de instigar a violência no município e recebeu inúmeras ameaças de morte nos últimos anos por causa de sua luta pela preservação da Amazônia. Também fez diversas denúncias sobre a participação de policiais civis e militares na expulsão de trabalhadores a mando de fazendeiros e grileiros da região.
O sangue dos justos
- A defesa da Amazônia continua sendo regada com o sangue dos justos. Irmã Dorothy defendia como poucos o patrimônio nacional dos ataques dos grileiros e tentava, de maneira incansável, que o Estado se fizesse presente em regiões remotas da Amazônia, disse Paulo Adário, coordenador da campanha da Amazônia, do Greenpeace, que está em Anapu.
Nos últimos 12 meses, o Ministério Público enviou 10 representações sobre as ameaças contra irmã Dorothy e outras lideranças de Anapu para o Secretário Especial de Defesa Social, Manoel Santino Nascimento Junior, pedindo medidas para garantir a integridade física dos ameaçados. - Mesmo sabendo dos riscos que irmã Dorothy corria, o governo do estado do Pará não tomou uma medida para garantir sua segurança, disse Adário. - É inaceitável que os marginais continuem imperando na Amazônia, silenciando a voz daqueles que defendem a preservação e os povos da floresta contra os interesses de grileiros, madeireiros e fazendeiros que operam ilegalmente na região.
O Pará apresenta o maior índice de assassinatos ligados às disputas de terra. Entre 1985 a 2001, quase 40% as 1237 mortes de trabalhadores rurais no Brasil aconteceram no Pará. Não é a toa que o Pará é o estado campeão de desmatamento ilegal, exploração de madeira, grilagem de terras, trabalho escravo e palco de escandalosas denúncias de abuso aos direitos humanos, conforme descrito no relatório -Pará: Estado de Conflito-, lançado pelo Greenpeace em outubro de 2003. O Ministério Público Federal vai pedir ao Superior Tribunal de Justiça que o assassinato de irmã Dorothy seja considerado um crime contra os direitos humanos.(Greenpeace 12/02)