Biocombustível vai dominar 30% do mercado em 2020, diz AIE
2005-02-10
Os biocombustíveis como o etanol de cana-de-açúcar poderão representar 30% do mercado mundial de combustíveis usados para o transporte em 2020. As estimativas são da Agência Internacional de Energia (AIE), que aponta o Brasil como um dos principais beneficiários desse novo cenário. A entidade alerta, porém, que o álcool produzido no País sofrerá no futuro mercado a concorrência de novos produtos, de novas tecnologias e dos subsídios para a produção nos países ricos.
Segundo Rick Sellers, chefe da unidade de energias renováveis da AIE, o mercado de combustíveis hoje é amplamente dominado pelo petróleo. Os biocombustíveis representam apenas 2% do mercado global e o comércio internacional do produto soma meros R$ 5 bilhões por ano. Em 2003, o Brasil exportou 2 bilhões de litros de etanol, contra um consumo interno de 15 bilhões de litros.
Mas com o preço do petróleo em alta, o aumento da demanda e a necessidade de reduzir emissões de gás por problemas ambientais, o etanol e outras formas de combustível devem crescer muito nos próximos anos. Para a AIE, essa categoria de combustível é a que mais cresce no momento e o setor se expande 20% por ano. A entidade estima que, desde os anos 70, US$ 23 bilhões já foram gastos em pesquisas no setor e agora os resultados começam a aparecer.
Suani Teixeira Coelho, vice-secretária de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, confirma esse início dos resultados e aponta que o governo estadual já está em contato com outras regiões como o País Basco, Baviera e regiões da Indonésia para cooperação no comércio do etanol. Segundo ela, os agricultores acreditam que a produção de álcool aumentaria em 50% no País se as exportações decolassem.
Rick Sellers, calcula que os biocombustíveis passam a ser rentáveis se o preço do barril do petróleo não for inferior a US$ 25. — Um barril acima de US$ 25 torna, por exemplo, a cana-de-açúcar brasileira mais barata como fonte de combustível —
afirma.
Para os próximos anos, porém, outro aspecto que deve influenciar será a necessidade dos governos de reduzir suas emissões de gás para cumprir os compromissos do Protocolo de Kyoto. Se o atual modelo de uso dos recursos energéticos for mantido, as emissões de gás aumentariam 62% até 2030.
Apesar da competitividade, o Brasil não deve achar que tem o mercado internacional do biocombustível garantido. A agência alerta que os produtores agrícolas americanos já intensificam seu lobby para não perder a oportunidade de oferecer seus produtos. Os EUA são superados apenas pelo Brasil na produção de etanol, mas usam o milho como matéria-prima. Pelos cálculos da AIE, o produto americano custa até três vezes mais que o etanol brasileiro, mas é beneficiado por subsídios para tornar-se competitivo. A AIE também destaca que o Brasil está tendo um papel fundamental para o futuro do setor ao desenvolver motores multicombustíveis. CruzeiroNet/Ag. Estado, 09/02