Despoluição da Baía de Guanabara: Dinheiro do lixo foi parar no lixo
2005-02-04
Quando fixaram as metas do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara — cujas obras completam dez anos hoje — os técnicos destinaram US$ 16 milhões (R$ 43,2 milhões) para sanear o problema do lixo. O objetivo era melhorar a coleta e as condições dos aterros, evitando que, diariamente, duas mil toneladas de detritos fossem parar em rios e canais, sendo levadas para as águas da baía. Uma década depois, cerca de 70% dos recursos para a área de lixo já foram gastos, mas os resultados parecem ter sumido na poeira. Das três usinas de reciclagem e compostagem previstas no programa, duas foram concluídas, mas as sucessivas interrupções nas obras comprometeram as metas do projeto. A terceira sequer saiu do papel.
O programa previa ainda a promoção social dos catadores e fazer a coleta de 90% da população dos 16 municípios do entorno da baía. Dez anos depois, São Gonçalo, segunda cidade mais populosa do estado, atende a apenas 70% dos moradores.
O secretário Luiz Paulo Conde argumenta que o programa tem erros de concepção e cita o pouco peso dado ao lixo, com apenas 1,8% dos recursos. Quanto à falta de fiscalização, ele diz que o problema é complexo: — O cidadão tem de ter consciência. A fiscalização do estado é aleatória, feita a partir de denúncias. Quantos fiscais seriam necessários para tudo isso? O importante é disciplinar os municípios para a importância de preservação do meio ambiente. E o exemplo poderia ser dado pela Cedae: a menos de 50 metros da entrada da estação de tratamento de esgoto de Alegria, no Caju, a maior do programa, existe um vazadouro de lixo, que avança sobre a baía que ela própria tenta limpar ao custo de R$ 2,8 bilhões. (O Globo 3/2)