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2005-01-31
Por Angelita Kasper (Porto Alegre)
No Parque Harmonia, numa das mais belas paisagens da capital gaúcha, às margens Guaíba, foi construído um dos ambientes mais atrativos deste V Fórum Social Mundial. É o Espaço E ou Anfiteatro Pôr do Sol, onde o título geral dos temas discutidos é Afirmando e defendendo os bens comuns da Terra e dos povos como alternativa à mercantilização e o controle das transnacionais. Ali discute-se problemáticas como a da escassez de água, da exploração dos recursos naturais, da energia atômica, dos transgênicos entre muitas outras. A atração pelo local é exercida tanto pela importância das temáticas e beleza natural da paisagem como pela criatividade arquitetônica do espaço. Enquanto a maior parte dos galpões, construídos especialmente para o evento, são de estruturas de ferro cobertas com lona branca, este espaço é um oásis de construções muito diferentes. São casas de paredes de barro com telhados recobertos com plantação de grama, os chamados telhados verdes. As estruturas dos quiosques e das arquibancadas são de bambu. Os acentos e alguns telhados são de palha de feno. Além da beleza e harmonia com o espaço natural, as construções têm as vantagens de possuir luz natural e estabilizador gratuito de temperatura. O calor de cerca de 30 graus que tem feito em Porto Alegre nestes dias é muito mais suportável que embaixo das lonas.

De Bagé para o Mundo
O espaço foi construído a partir de técnicas de permacultura. O principal idealizador do projeto foi João Rockett diretor fundador do IPEP, Instituto de Permacultura e Ecovilas do Pampa. Fundado em junho de 2000, o IPEP atua como centro de referência e demonstrativo para a difusão de conhecimentos e práticas de permacultura. Com sede na cidade de Bagé, RS, demonstra técnicas de permaculturas adaptadas à cultura e ao ecossitema do Pampa tais como bioconstruções, segurança hídrica, geração de energia renovável e produção de alimentos. Atua junto a instituições públicas e privadas, Ongs, comunidades urbanas e rurais oferecendo cursos, treinamentos, assessoria, consultoria e visitas programadas. Segundo Rockett, a permacultura é um sistema de desenho aplicado interdisciplinar para criar comunidades humanas sustentáveis. É um sistema generalista com uma filosofia baseada em princípios ecológicos que une edificação, água, produção de alimentos e geração de energia renovável. Ele explica que a permacultura tem origem nos anos 60 com o movimento hippie que fez um resgate de técnicas ancestrais usadas por agricultores e povos indígenas. - Antes de vender-se a idéia de drogas e rockn roll, a essência do movimento era o resgate de conhecimentos ancestrais, da alimentação natural, do o retorno ao campo, diz Rockett.

Às pressas e na prática
Construído às pressas em apenas cinco semanas, a idéia foi trazer o projeto para o Fórum para mostrar minimamente estas técnicas para um grande número de pessoas. Para mostrar o quanto se poderia diminuir o consumo energético no país e no mundo construindo com materiais mais naturais, diminuindo o impacto ambiental desde a hora da fabricação dos materiais até diminuição do consumo de energia de iluminação e aquecimento destas salas, diz Rockett. O permacultor aponta inúmeras vantagens dos materiais. O barro é um estabilizador natural e gratuito de temperatura e umidade. O telhado verde poderia ser uma solução para os alagamentos nos espaços urbanos, pois absorve 70% da água que recebe. Além disso, ao contrário do asfalto, que consome oxigênio (3 metros cúbicos de ar por metro quadrado de asfalto por hora), a grama produz, através da fotossíntese. Um bom exemplo é a fábrica da Ford, no estado de Mischigan, nos EUA, que possui uma planta industrial de 45 mil metros quadrados recobertos com telhado verde. O telhado duplicou o espaço que transformou-se em área de lazer dos funcionários e local de cultivo horaliças e flores em estufas. O permacultor João Rockett salienta a urgência do uso destas alternativas: - são medidas para ontem, não podemos esperar mais! A sociedade vive uma crise de percepção. Existe hoje no mundo uma fé nos recursos naturais como ilimitados. Construímos nossas casas e nossas cidades e tudo que nos cerca de petróleo. Envenenamos o nosso corpo e o de nossos filhos com metais pesados e agrotóxicos. Jogamos todo nosso esgoto na água e depois bebemos desta mesma água. Reduzimos a biodiversidade à monocultura de exportação. E tudo ainda parece normal? Para quem?

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