Urbanização afetou o litoral
2005-01-27
Há cerca de cinco décadas, a paisagem natural do Litoral Norte era outra: as praias eram cortadas por cordões contínuos de dunas, tanto na beira-mar quanto no seus interiores, e a orla era povoada por quantidades muito maiores de tatuíras e caranguejos. Com a urbanização, que se intensificou nas últimas duas décadas, imóveis e calçadões, como os de Torres, Capão da Canoa e Tramandaí, foram ocupando o espaço que antes pertencia aos cômoros de areia.
- Com a diminuição das dunas, há uma alteração no microclima da região, menos umidade e mais calor. A água da chuva não infiltra tanto para dentro do solo, reduzindo a alimentação do lençol freático, explica a bióloga Norma Luiza Würdig, diretora do Centro de Estudos Costeiros Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Segundo a arquiteta Cláudia Laydner, coordenadora do Programa Estadual de Gerenciamento Costeiro da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), somente em três pontos do Litoral Norte ainda existem os campos de dunas, no interior das praias. Os de Cidreira e os de Itapeva, em Torres, são alimentados por areias da orla. Elas são carregadas pela ação dos ventos. - Se os corredores de alimentação forem interrompidos, a tendência é esses campos desaparecerem. É o que ocorre em Balneário Pinhal, onde os corredores foram interrompidos pela urbanização e os campos de dunas não recebem mais areia da beira-mar, diz Cláudia.
Uma das implicações da alteração desses ecossistemas é a diminuição da fauna e da flora típicas. A bióloga Georgina Bond-Buckup, professora aposentada do Departamento de Zoologia da UFRGS, desconhece pesquisas científicas sobre o assunto, mas diz perceber, de forma empírica, uma redução de caranguejo-fantasma (Ocypode quadrata). Na faixa de areia próxima ao mar, ela nota uma diminuição de tatuíras e de mariscos. O tamanho das populações, informa ela, pode ser afetado por fatores bióticos (comportamento da fauna) e abitóticos (alterações químicas e físicas do ambiente). Sem saneamento básico, políticas ecológicas e controle da situação, reforça ela, a tendência é que as mudanças negativas sigam ocorrendo. (ZH, Ambiente, 4)