Praias vivem dilema do lixo
2005-01-27
A falta de coleta seletiva na maior parte das praias gaúchas obriga os veranistas preocupados com o ambiente a fazer malabarismos para ver seu lixo reaproveitado. À exceção de Capão da Canoa, são raros os municípios do Litoral Norte que oferecem o serviço. O jeito é usar a criatividade.
O aposentado Geraldo Maria Tonial, 71 anos, utiliza o lixo como material de construção. Para proteger do vento o canteiro onde planta hortaliças, Tonial criou um muro de garrafas de refrigerante de dois litros. Cada fileira vertical tem empilhadas oito unidades, formando uma barreira de 3.978 garrafas.
- Pensei em fazer com tijolo, mas ia sair muito caro. Fiquei duas noites sem dormir pensando como fazer isso, mas deu certo - revela Tonial. No interior de Lagoa Vermelha, onde trabalhava como agricultor, Tonial garante nunca ter ouvido falar de reciclagem. - Percebi a importância de separar o lixo depois que vim para a cidade - revela o aposentado. Para formatar o canteiro de alfaces e chicórias, ele substituiu os tijolos por garrafas plásticas enterradas com o bico para baixo. - O tijolo desaparece em dois meses, enquanto a garrafa plástica não dá problema e é mais barata - argumenta. Além de usar as garrafas na estrutura da casa, o aposentado monitora a limpeza dos terrenos vizinhos à casa em que vive em Capão da Canoa. Separa o lixo seco recolhido pela prefeitura toda terça-feira.
Dono de um hotel em Arroio Teixeira, Luiz da Silva Barbosa, 65 anos, implementou há três anos a separação do lixo seco do orgânico. - Naquela época, a prefeitura ameaçou multar quem não separasse o lixo. A coleta seletiva já não chega até aqui, mas a gente manteve o sistema por costume - relata Barbosa. Desde então, latas de óleo, alvejantes e outros recipientes são colocados em um tonel à parte. Do outro lado, param os restos de comida, maior parte do resíduo proveniente do restaurante do Hotel Santa Rita.
- O caminhão do lixo acaba levando tudo junto, mas fazemos a nossa parte - afirma Lopes.
Apesar de o município oferecer o serviço, alguns balneários de Capão da Canoa reclamam que o caminhão da coleta não chega regularmente. É o caso de Arroio Teixeira. Há usinas de separação do lixo em Capão e Osório. Uma terceira foi incendiada em Torres. Nos municípios onde não há coleta organizada, as pessoas que separam o lixo por hábito colocam o material na rua. Normalmente, os catadores levam o que lhes interessa antes que as sacolas cheguem aos lixões. O risco é as pessoas estarem separando o lixo sem garantia de que os resíduos terão alguma utilidade.
Ana Piltz, da área de educação ambiental e eventos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), que está no Litoral Norte, explica que as praias estão distantes da consciência com relação do lixo. - Está sendo feito muito pouco. As pessoas misturam lixo. Há muitos veranistas conscientes. Mas de que adianta fazer a sua parte, se a caçamba da prefeitura mistura tudo. (ZH, Ambiente, 7)