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2005-01-26
Este ano o Acampamento Intercontinental da Juventude vai inovar durante o Fórum Social Mundial. As construções são todas feitas com material biológico, como fardos de palha, barro, madeira e taquara. Um novo tipo de experiência que estudantes de arquitetura e voluntários estão implantando no acampamento. Felipe Drago, um dos responsáveis pelas obras e estudante de Arquitetura na UFRGS, faz parte da Comissão de Infra-Estrutura desta cidade-laboratório e do Geba – Grupo de Estudos de Bioarquitetura, que funciona desde 2002. Depois da experiência do I Acampamento da Juventude, esse grupo sentiu necessidade de participar mais ativamente da construção desse espaço, que propõe alternativas para a nossa sociedade, e a cada ano foi se integrando mais ao processo. - É um laboratório de práticas. A gente espera que as pessoas aprendam a fazer isso e apliquem em outros lugares.

São três as técnicas utilizadas. A construção de pau-a-pique de taquara com barro, utilizada no espaço chamado de Acampadinhos - onde ficarão os filhos dos acampados - e no galpão de cinema. O barro tem como funcionalidade a vedação dos espaços e proteção para caso de chuva e fogo. Outra técnica é a taipa de pilão, onde se colocam compensados dos dois lados da parede e vai-se socando terra dentro deles. E tem também a técnica dos fardos de palha. É montada uma estrutura onde se colocam os fardos entre taquaras. Depois se coloca barro por fora, como proteção. São técnicas que reduzem todo o impacto ambiental de uma construção, além de não serem utilizados materiais industrializados – hoje são duas grandes empresas no mundo – e a força de trabalho empreendida ser muito menor.

Além disso, essas construções custam bem menos que as convencionais, atuando como isolantes térmicos, pois conservam a energia dentro do ambiente. Isso porque o barro e a palha permitem que o ar circule dentro do ambiente e que a umidade saia pra fora. Movimentos como o dos trabalhadores sem-terra (MST) e o dos desempregados (MTD), em Eldorado do Sul, já utilizam essas técnicas nos seus acampamentos. São formas novas de pensar a construção e a arquitetura que ainda não fazem parte dos cursos universitários.

Os planos desse grupo de estudantes de arquitetura continuam após o Fórum Social Mundial, integrados à proposta de gerar um processo de criação de uma nova sociedade. Eles criaram um Grupo de Trabalho de Pesquisa para acompanhar a ocupação do espaço pelos grupos e analisar o tipo de ocupação e a gestão - que será realizada de forma autônoma pelos acampados - além de verificar o perfil político dessas pessoas e organizações. A intenção é ter uma base de dados forte sobre um outro tipo de urbanismo. Outro projeto que eles pretendem colocar em prática juntamente com outros movimentos é a criação de um instituto de permacultura urbana. A permacultura abrange comunidades que vivem de forma sustentável permanentemente, utilizando técnicas que vão desde reciclagem de lixo até a utilização de cisternas de reutilização de água. É uma outra visão de mundo, mais ecológica e menos agressiva aos seres humanos e ao meio ambiente. O acampamento é um local de experiências alternativas para serem colocadas em prática, gerando uma mudança de conceitos e de como aplicá-los no dia-a-dia de cada um. (EcoAgência, Thais Silva, 25/01)

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