Seringueiros denunciam invasão de 23 reservas florestais de Rondônia
2005-01-26
Levantamento da Organização dos Seringueiros de Rondônia indica a existência de 23 reservas florestais de Rondônia invadidas por posseiros, madeireiros e pecuaristas. O presidente da entidade, Osvaldo Castro de Oliveira, disse que uma delas, a reserva extrativista estadual de Jacy-Paraná, já tem mais de 70% dos seus 190 mil hectares ocupados pelos invasores.
– A classe política de Rondônia, em vez de reprimir, está incentivando. Infelizmente, a voz da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ainda não chegou a Rondônia, disse o dirigente seringueiro.
Invasores ergueram vila em reserva federal
No domingo, O GLOBO mostrou a invasão da Floresta Nacional do Bom Futuro, em Porto Velho, onde os ocupantes chegaram a erguer uma vila residencial com lojas, escolas, igrejas e até um hotel. A ação uniu pequenos agricultores a serrarias e pecuaristas interessados das madeiras nobres e na terra fértil da reserva, a maior do estado.
A estrada de terra que liga Buritis, o município mais próximo, a Rio Pardo, nome da vila erguida pelos invasores, exibe um rastro de destruição. Em lugar de uma das últimas áreas de floresta nativa amazônia, há troncos, galhos calcinados e cercas. Osvaldo Oliveira disse que os seringueiros têm denunciado, sistematicamente, a invasão das áreas protegidas do estado. Em alguns casos, garante, jagunços armados desencorajam qualquer tentativa de reação e não permitem a implantação de projetos de extrativismo florestal. Na lista de áreas invadidas levantada pela organização, destacam-se, além de Bom Futuro e Jacy-Paraná, as reservas de Rio Ouro Preto (Guajara-Mirim, Rio Preto/Jacundá, Aquariquara, Frejó e Castanheira (Machadinho) e Rio Caltário (Costa Marques). – Rondônia tem um zoneamento econômico-ecológico, que estabeleceu as áreas de extrativismo, mas as autoridades locais não estão nem aí. Os políticos foram eleitos com esse objetivo mesmo: detonar as reservas, disse Osvaldo.
Ibama: não haverá precedentes em Rondônia
O diretor de Florestas do Ibama, Antônio Carlos Hummel, disse que o governo não abrirá precedentes, descaracterizando a Floresta de Bom Futuro e destinado as terras invadidas a projetos de assentamento.
– O caminho é um acordo. Só ficarão na área os cadastrados pelo Incra, clientes da reforma agrária. E isso até que o Incra destine uma área para esse pessoal, disse. O Ibama enviou, semana passada, a minuta de termo de ajustamento de conduta aos representantes dos invasores. No documento, o órgão se compromete, com o auxílio do Incra, a cadastrar os ocupantes da reserva. Durante o período em que permanecerem em Bom Futuro, terão de se comprometer com um plano de manejo, evitando queimadas e corte de madeira.
– Reconheço que houve, no passado, negligência do Ibama, que não impediu a invasão, disse Hummel. (O Globo 25/1)