Ilha na Lagoa dos Patos será iluminada com tecnologia do hidrogênio
2005-01-25
Uma nova paisagem se configura na noite da Lagoa dos Patos. A conhecida escuridão da ilha da Feitoria, localizada a uma hora de barco da Colônia de Pescadores Z-3, deverá estar iluminada até o final de março. Essa é a expectativa do projeto de pesquisa de células a combustível do Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica da PUC-RS que, em parceria com a CEEE, reúne cinco cientistas para inserir o Rio Grande do Sul nos estudos sobre o elemento químico que é o protagonista da próxima revolução energética mundial - o hidrogênio. Atualmente apenas três pessoas vivem na ilha que é patrimônio de Pelotas desde 1993. O lugar de 7,5 quilômetros de extensão, nos últimos anos transformou-se em atração do município, apesar de ainda não ter se consolidado como ponto turístico justamente pela falta de infra-estrutura que vige, como uma das razões, pela necessidade de debater e garantir a preservação ambiental do local. Os moradores não dispõem de energia elétrica nem de água potável, esgoto ou qualquer outra estrutura básica.
O projeto deve mudar a realidade da Feitoria e incluir Pelotas em estudos que, sem exageros, ambicionam mudar também o mundo. Célula a combustível, ou Fuel Cells, é uma tecnologia que utiliza o hidrogênio e o oxigênio para gerar eletricidade com alta eficiência. Pesquisas de desenvolvimento dessas células são realizadas em todo o planeta por empresas de energia, montadoras de automóveis, fabricantes de equipamentos eletrônicos e universidades. - Essa tecnologia proporciona um rendimento de até 55%, enquanto nos motores a combustão o rendimento é de no máximo 25% - afirma o engenheiro eletricista da CEEE, Carlos Eduardo Ferreira Raposo, que participa do projeto de mestrado da PUC.
Há um movimento em favor de uma economia baseada no hidrogênio como combustível no lugar do petróleo, que tem unificado divergentes lideranças políticas mundiais, grandes empresas, cientistas e ambientalistas - inclusive o renomado físico austríaco, Fritjof Capra, que estará em Porto Alegre esta semana para participar da quinta edição do Fórum Social Mundial. Isso exigiria uma nova infra-estrutura de armazenamento, distribuição e uso da energia que distanciaria o globo de um regime energético baseado em combustíveis fósseis (as previsões mais otimistas apontam que as reservas de petróleo podem durar de 40 a 50 anos) e, com efeito, diminuiria as emissões de gás carbônico (CO2) e minimizaria os efeitos do aquecimento global na biosfera.
O projeto desenvolvido pela CEEE e pela PUC já construiu o protótipo de uma Fuel Cells e o local escolhido para a colocação do equipamento em funcionamento foi Pelotas. No domingo passado, o engenheiro eletricista e gerente do projeto na PUC, Paulo Renato Soares, o professor doutor em Eletrônica e Informática Industrial e orientador da pesquisa, Vicente Mariano Canalli, e o mestrando na área, natural de Bagé radicado em Pelotas, Carlos Eduardo Ferreira Raposo, visitaram a ilha da Feitoria e decidiram pelo lugar para a instalação da célula. A CEEE investiu R$ 300 mil no projeto e para a instalação ainda é necessário criar outras parcerias, especialmente com o poder público municipal para deslocamentos até a Ilha e mão-de-obra, mas o grupo está otimista. - Esperamos que até o final de março tudo esteja pronto - apontou Raposo. O equipamento terá potência de um quilowatt - o suficiente para atender as necessidades dos moradores como uma bomba de água, uma geladeira, uma televisão e iluminação residencial. Além disso, o convênio estabelecido com a empresa porto-alegrense OZ, Indústria de equipamentos geradores de Ozônio, disponibilizará um ionizador para a purificação da água na Ilha que hoje é comprovadamente imprópria para o consumo. Nesta segunda-feira, o grupo de pesquisadores agendou uma reunião com o secretário de Desenvolvimento Rural, Lélio Robe, com o objetivo de estabelecer nova parceria. - Nosso projeto é um ponto de partida. Pode-se agregar diversas outras idéias e estimular, inclusive, o turismo na ilha e com isso incentivar o desenvolvimento econômico - concluiu Raposo. (Diário Popular, 24/01)