Divergência no governo paralisa o projeto de Angra 3
2005-01-24
A oposição da ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia) à retomada das obras na usina Angra 3 adiou indefinidamente a decisão do governo Lula sobre os rumos do programa nuclear brasileiro.
Com as obras paralisadas há quase dez anos por falta de dinheiro, a terceira usina nuclear brasileira custa por ano US$ 20 milhões (cerca de R$ 54 milhões de reais ou quase um terço do AeroLula) aos cofres públicos só para guardar os equipamentos importados durante o regime militar e evitar que se transformem em sucata.
Concluir a usina custará mais US$ 1,8 bilhão (R$ 4,8 bilhões) ao contribuinte. Desistir dela significará jogar fora outros US$ 750 milhões (R$ 2 bilhões) já investidos em equipamentos, além de deixar no meio do caminho os planos de domínio da tecnologia de energia nuclear.
A escolha, difícil, foi transferida no final do governo Fernando Henrique Cardoso para a gestão Lula, que marcou data para anúncio da decisão: dezembro do ano passado.
Em maio, a ministra de Minas e Energia criou grupo de trabalho conjunto com os ministérios de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia e Planejamento para estudar a conveniência de retomar as obras de Angra 3.
A usina é tida como desejável em todos os cenários traçados pelo governo para o programa nuclear em trabalho coordenado pela equipe do ministro Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia).
Ao final do prazo de 180 dias, expirado em meados de novembro, o relatório produzido no grupo e favorável à usina por motivos econômicos -e sobretudo estratégicos- foi desprezado. Foi como se o grupo de trabalho não tivesse existido.
Dias depois, Rousseff sugeriu que cada pasta listasse pontos positivos e negativos da obra e encaminhasse separadamente as conclusões ao CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), que assessora o presidente da República. A próxima reunião do conselho está prevista para março.
Segundo o ministro José Dirceu (Casa Civil), integrante do CNPE, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai tomar uma decisão, mas já não há data marcada para isso. (FSP/23/1)