(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2005-01-20
Por realizar sonhos de casa própria erguendo paredes de borracha, o gaúcho Leandro Agostinho Kroth está se tornando uma celebridade entre ambientalistas do mundo inteiro. O engenheiro civil de 43 anos desenvolve um inusitado projeto habitacional na pequena Santa Cruz do Sul, cidade de quase 100 mil habitantes a 150 quilômetros de Porto Alegre, e é o primeiro brasileiro a receber o Prêmio Mundial Energia Global Para a Sustentabilidade, uma espécie de Oscar dos ecologistas. Na cerimônia que será realizada em abril próximo em Nagoya, no Japão, Kroth receberá um troféu, 10 mil euros e o reconhecimento de que entre os 972 trabalhos inscritos, o seu projeto é o que melhor alia meio-ambiente e preocupação social. - É como marcar o gol da vitória numa final de Copa do Mundo - comemora. - Nunca me imaginei um engenheiro de tabelas, limitado à frieza de números e cálculos.

Por isso, ele há oito anos começou a pôr em prática uma antiga e estranha idéia de triturar pneus velhos e, misturando-os com areia, cimento e água, conseguiu uma maneira simples, rápida e barata de construir habitações populares. - Fiz tudo com um olho na questão econômica e outro, na ambiental - justifica. - Não dá mais para assistirmos passivamente seres humanos vivendo em condições sub-humanas e, tampouco, cruzar os braços para a impiedosa destruição da natureza. - Não me conformo de ver montanhas de pneus se deteriorando e servindo apenas para criadouro de mosquitos da dengue - diz ele.

Ainda estudante passou a fazer experiências que – entre idas e voltas, acertos e erros – iriam culminar nas 210 casas que se mostram imponentes na periferia de Santa Cruz do Sul. Chamadas de Bom Plac, por causa das iniciais do material utilizado (borracha, madeira, plástico e cimento), cada uma delas tem 60 metros quadrados, com três dormitórios, sala, cozinha, banheiro e área de serviço. - São simples e rápidas - garante.

Construção conta com participação de presidiários O processo de construção das casas de borracha – como são popularmente chamadas – inicia quando 12 presidiários do sistema de regime semi-aberto da penitenciária da cidade trituram pneus numa moenda, de onde eles saem adequadamente granulados para ser misturados à argamassa de cimento, areia e água. A mistura é posta em fôrmas com óleo queimado que se transformam mais tarde em placas de três centímetros de espessura. Depois de dois dias de repouso as paredes podem ir para o canteiro de obras e, conforme o mutirão organizado pelos moradores, em dez dias estão de pé. O interior de cada imóvel é revestido de plástico, enquanto o telhado e os pilares são reforçados por madeira de eucalipto. - Estamos encontrando um destino para os pneus que poluem e levariam séculos para se decompor - explica Kroth. - Por outro lado, estamos gastando o mínimo para garantir o máximo de habitações a famílias pobres.

Há dois meses morando com os cinco filhos em sua casa de borracha, a doméstica Marilene Alves, de 45 anos, parece ter aberto as portas do paraíso. Até a pouco, ela e seus meninos dividiam um casebre de chão batido, sem as mínimas condições de salubridade. Ainda está fazendo as alterações e benfeitorias que julga necessárias, mas mostra sala e quartos com o orgulho de quem realizou o maior de todos os seus sonhos. - Hoje, eu tenho a minha casa - sublinha. Mas, para que isso seja uma verdade sem meia-volta, Marilene começa a pagar dentro de 16 meses uma prestação que mal passa dos 50 reais, pois, de acordo com lei municipal, os gastos com moradia não podem comprometer mais de vinte por cento dos seus ganhos. Tem de 60 a 72 meses para ficar sem dívidas. - Não tenho do que reclamar - exulta.

Popular incoerente

Mas não basta a aprovação popular. Que o diga o engenheiro Leandro Agostinho Kroth -Tem gente que só consegue enxergar defeitos e carrega nas críticas. As mais implacáveis são as do engenheiro Miguel Sattler, especialista em edificações auto-sustentáveis da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Sattler, que desenvolve um outro projeto de moradias populares na região metropolitana de Porto Alegre, acha que as casas de borracha de Santa Cruz do Sul não são essa maravilha toda e precisam de avaliações complementares. Ele duvida ainda que as construções sejam saudáveis do ponto de vista ambiental. E mais, identifica no projeto de Leandro Agostinho Kroth os mesmos erros e pecados de iniciativas semelhantes. - Todas as casas populares são incoerentes. Cada uma delas é um forno no verão e uma geladeira no inverno. Logo, desumanas - frisa Miguel Sattler. Acrescenta ainda - Quem garante que mesmo triturados e misturados a areia e ao cimento, os pneus não podem liberar uma quantidade nociva de metais pesados?

A Fundação de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul assina embaixo. O engenheiro Ronaldo Duarte, que dirige a entidade afirma que as casas de borracha estão longe de ser a solução para o déficit habitacional entre as camadas de baixa renda, mas louva a criatividade e a ousadia de Leandro Agostinho Kroth ao apostar e alertar a sociedade para a reciclagem de materiais usados. - É claro que o projeto, como todo e qualquer projeto, precisa se aperfeiçoar - avalia Ronaldo - Mas, em testes que realizamos não constatamos qualquer risco de contaminação ou liberação de substâncias nocivas.

Modelo exportação

Um outro emblema das casas de borracha, mas também uma outra dúvida, é a questão de custos. No que depender da matemática de seu idealizador cada uma sai por uma quantia irrisória. Enquanto um imóvel do mesmo tamanho e finalidade social – construído por métodos e com materiais tradicionais – daria um gasto que oscila entre 25 mil e 40 mil reais, cada habitação Bom Plac não sairia por mais de 9 mil reais. A explicação para uma economia que pode chegar a uns 70% está na mão-de-obra: desde os presidiários do regime semi-aberto – que ganham um salário mínimo, sem encargos sociais – até a participação dos futuros moradores no mutirão que prepara o terreno e levanta as paredes. Os pneus velhos que substituem a utilização de brita colaboram também, e muito, na queda de preços, que poderiam ser menores ainda desde que encontrados areia e cimento mais baratos.

O certo é que as casas de borracha começam a ganhar vitrines, chamam a atenção por sua originalidade e tomam um rumo nos caminhos do mundo. Em dezembro passado, uma equipe de televisão da Áustria passou três dias em Santa Cruz do Sul acompanhando todas as etapas de construção. Há outros interesses e interessados. As prefeituras de Búzios, no Rio de Janeiro, Natal, no Rio Grande do Norte, Serra Negra, em São Paulo, e Belém, no Pará, querem fazer vilas semelhantes à da periferia da cidade do interior gaúcho. Mas não só em terras brasileiras as casas de borracha estão fincando seus alicerces. Cabo Verde já mandou técnicos acompanharem o projeto e uma organização não-governamental da Alemanha quer transplantar a idéia para a Albânia, um país com graves problemas habitacionais. - Eu mesmo me surpreendo, mas fico muito satisfeito - declara Leandro Agostinho Kroth. (No Mínimo, Timóteo Lopes, 19/01)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -