Irrigação será prejudicada com transposição do São Francisco
2005-01-19
O deputado estadual João Bonfim (PTB), que integra a Frente Nacional de Defesa do São Francisco, destacou que além do impacto ambiental e do enorme custo aos cofres públicos, o projeto de transposição do São Francisco leva água a regiões que não sofrem com a seca e inviabiliza tanto a implantação, como a expansão de projetos de irrigação nos estados da Bahia e de Minas Gerais. – O projeto compromete 100% da disponibilidade de águas do Velho Chico. Qualquer projeto para atender à comunidade ribeirinha no futuro será inviabilizado, disse.
João Bonfim explicou que o projeto original foi alterado para que a transposição atendesse à quantidade de água disponível para o consumo imediato no rio. No entanto, o deputado lembrou que o projeto de transposição prevê um aumento nesta quantidade em até cinco vezes. – Qualquer aumento na vazão do rio será absorvido pela transposição, disse. Além disso, o deputado explicou que, com as águas do rio comprometidas com o projeto, será impossível a execução que qualquer iniciativa para beneficiar as comunidades que sofrem com a seca, principalmente na Bahia.
O deputado apresentou um estudo do diretor de Recursos Hídricos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, José Abner Guimarães Júnior, que mostra a inutilidade do projeto. – Na realidade, o projeto, caso seja implantado, levaria água do Rio São Francisco para os principais rios da região onde já se concentram os maiores estoques de água. Apenas alguns dos maiores reservatórios da região deveriam receber as águas da transposição, afirmou o professor em seu artigo.
Ainda de acordo com o estudo de Abner, o problema da seca mudaria muito pouco com a transposição, já que a água do São Francisco passaria longe das regiões mais secas do Nordeste. – Portanto, continuaria a demanda por recursos governamentais de emergência para o combate aos efeitos das secas, afirma o professor em seu relatório. João Bonfim também lembrou as obras de irrigação que estão paradas na Bahia à espera de recursos federais. – Por que levar as águas do Velho Chico a 700km da Bacia, se a dois quilômetros do rio famílias inteiras passam sede no semi-árido baiano?, questionou o deputado.
Ele apresetnou uma série reportagens realizadas pelo jornal O Estado de Minas com os títulos: Muita água para quem já tem, A Transamazônica de Lula e Vale da pobreza tem petróleo e camarão, demonstrando que as águas da transposição atendem, em sua maioria, a interesses empresariais, principalmente para a aqüicultura de camarão, um cultivo que necessita de grande quantidade de água. O deputado apresentou ainda, entrevistas com o secretário estadual de Recuros Hídricos do Ceará, Edinardo Ximenes Rodrigues, afirmando que o Ceará não depende das águas da transposição. (Correio da Bahia 18/1)