Seca desfigura banhado do Taim
2005-01-19
A maior reserva ecológica do Estado sofre os efeitos da seca. A falta de chuva está mudando a paisagem na Estação Ecológica do Taim, entre Rio Grande e Santa Vitória do Palmar. Conhecida pelos extensos banhados, a região expõe cenas típicas do nordeste brasileiro: solo rachado e carcaças de animais.
Em alguns locais, onde a fiscalização antes era feita de barco, hoje é possível transitar a pé. Em um canal que chegou a ter dois metros de profundidade, agora a água corre a menos de 35 centímetros do solo, deixando à mostra os peixes que tentam sobreviver.
Para algumas espécies de aves, a estiagem é vantajosa. Com os níveis mais baixos da água, o alimento fica em exposição, favorecendo a captura. Outros bandos, como os dos cisnes-do-pescoço-preto, ave símbolo de Rio Grande, já voaram em busca de novas áreas de permanência, como a Lagoa dos Patos. Às margens da estrada que liga Rio Grande a Santa Vitória (BR-471) e corta a unidade de conservação, em vez de banhados são vistos campos e árvores, antes submersos.
Espécies têm estratégias para sobreviver na seca
As capivaras e os ratões-do-banhado, espécies de roedores que vivem no local, migraram para áreas onde ainda há água e comida. - Trabalho há 17 anos aqui e nunca tinha visto uma seca como esta, diz Elenir Renato de Quadros, 40 anos, fiscal do Ibama. Apesar da estiagem, a geógrafa Carla Crivellaro, do Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema), que há três anos desenvolve um estudo nos banhados do Taim, diz que a situação é cíclica e normal. Os anos de cheia se intercalam aos de seca, e as espécies sobrevivem utilizando estratégias próprias.
- O impacto é mais visual, com áreas secas e animais se aglomerando em regiões de alimento mais abundante. O banhado tem exatamente a função de reter a água em épocas de chuva para garantir a sobrevivência na estiagem. Por isso, a água resiste em algumas áreas, explica.
Segundo ela, o nível das lagoas Flores, Caiubá, Jacaré e Nicola, parte do principal sistema que forma a reserva, baixou, assim como o da Lagoa Mirim. Aliado a isso, a retirada de água para as lavouras de arroz e as plantações de pinus das adjacências da área preservada também causam impacto, principalmente em anos de seca. - É um processo, e não uma situação isolada. O Taim envolve muitos ambientes, o que possibilita a preservação das espécies mesmo em épocas de crise, acrescenta a pesquisadora Carla. (ZH, 41, CP/16)