Engenheiros de primeira linha erraram para garantir a aprovação da usina
2005-01-19
A barragem de R$ 1 bilhão foi erguida depois que alguém cometeu um erro grave na análise do terreno: em algum ponto lá atrás, quando a obra foi planejada, um técnico qualquer atestou que a mata que seria engolida pelas águas tinha só capoeiras, o tipo de vegetação fácil de suprimir - pra usar a palavra da Baesa para desmatamento. Descobriu-se depois da obra pronta que errou o autor do estudo (feito pela empresa especializada Engevix). Havia lá um naco de floresta nativa com uma rara espécie de araucária, ameaçada de extinção e protegida por lei. Ou o autor não viu, ou que fez que não viu.
O presidente da Baesa já admitiu o engano numa entrevista para a rádio inglesa BBC. Afirmou que se tivesse sabido antes da construção da barragem ela não teria sido feita naquele ponto - são lágrimas de crocodilo. Tudo indica que quem atestou que a vegetação seria insignificante o fez por ordens superiores, para atender aos interesses dos construtores da usina.
Na defesa do autor se poderia alegar incompetência. Seria o erro honesto, coisa a que todos estamos sujeitos. Mas é difícil chamar um funcionário da Engevix de incompetente: a empresa é a maior do setor. Tem 40 anos de experiência e já atuou em 50 usinas. Ela é McDonalds do ramo dos estudos ambientais brasileiros - na hora de vender o serviço alega que seus técnicos são os reis da cocada preta.
Se foi mancada ou mentira não importa mais: na hora de embargar uma obra que já custou ao contribuinte um bilhão de reais, ou derrubar um bosque nos cafundós do rio Pelotas, é provável que até Chico Mendes empunhasse uma motosserra. As empresas privadas que tocam a obra por concessão da União (com todo apoio do governo Lula) podem alegar que já investiram demais para recuar e até que ali não existe dinheiro do contribuinte.
Não acredite nisso. Cada árvore daqueles matos e cada gota de água daquele rio são do povo, assim como cada grama de cimento daquela enorme barragem - espere um pouco que a conta logo vai chegar na sua casa.(Renan Antunes de Oliveira)