Peão de Barra Grande só quer sair bem na foto
2005-01-19
Ênio está alheio aos problemas da Baesa para construir a usina. Não sabe que as araucárias que vai cortar são protegidas por lei. - Nem quero saber, sou terceirizado, diz, jogando a responsabilidade para os de cima. - Sou só um peão. Sorri, dá uma longa tragada num cigarro, limpa o suor com as costas da luva - está adorando o papo, parece feliz de ser notado.
Ênio e sua bichinha são capazes de destruir, em 45 minutos e com apenas um litro de gasolina, coisas que a natureza levou um tempão para fazer. Ele tem método: caminha 100 metros prum lado, depois 100 pro outro, de 100 em 100 até formar um quadrado, ceifando tudo que estiver dentro dele.
O repórter quer conhecer o homem. Ele conta que é solteiro, que deixou para trás na sua Minas Gerais um filho de 12 anos, que quando terminar o trabalho vai voltar para casa - não, ele não gosta do Rio Grande. A conversa fica chata e não avança. Ele quer é sair bem nas fotos. Brande no ar sua motosserra, desligada. Sem o ronco da máquina, a paz reina por segundos na encosta, com o rio ao fundo, correndo devagar, sob um sol de rachar.
Com um movimento rápido ele aciona o motor da bichinha e ela começa a roncar. Os dois atacam um enorme guarapuvu. Em segundos o gigante está no chão. São só 10 da manhã. O dia vai ser longo para Ênio e sua Stihl. (Renan Antunes de Oliveira)