Homem da motosserra diz que adora a natureza
2005-01-19
Por Renan Antunes de Oliveira, especial para o Ambiente JÁ
Mineiro da mesma cidade de Itabira onde nasceu Carlos Drummond de Andrade, Ênio Otávio da Silva vê o mundo sem poesia: ele é um desmatador profissional.
Aos 42 anos e dez de profissão, Ênio empunha uma motosserra da marca Stihl, modelo MS 360, das 7 da manhã às 7 da noite. Corta tudo que o vento agite. Por onde ele passa, só fica a grama.
Na primeira semana de janeiro ele era encontrável numa barranca do Rio Pelotas. Sua tarefa, com 200 outros companheiros, é derrubar tudo que a vista alcança - o desmatamento vai permitir a formação do reservatório da Usina de Barra Grande.
Não é difícil saber como ele se sente: - Eu adoro a natureza, mas não posso fazer nada, preciso ganhar meu pão. O homem tem a altura do Romário, a mesma cor, só é um pouco mais magro. Maneja os sete quilos da sua Stihl com destreza e rapidez. Está num contrato por empreitada. Serão seis meses de corte, sem folgas ou feriados. É servidão voluntária, vai ganhar dois mil mensais. Pela importância e visibilidade de sua tarefa Ênio recebe hoje tratamento vip. Vai e volta pro serviço num carro do patrão. A bóia vem de Kombi, numa quentinha. Ele usa botas, luvas, capacete com visor e protetores de ouvido, necessários por causa do ronco da bichinha - ele trata com afeto sua ferramenta.