Madeireiros ameaçam bloquear rodovias e rios para denunciar burocracia federal
2005-01-18
O segundo maior rio do mundo, o Amazonas, e as duas mais importantes rodovias da região Norte do País, a Transamazônica (BR-230) e a Cuiabá–Santarém (BR-163), poderão ser bloqueados na semana que vem, num inédito megaprotesto de madeireiros e empresários contra o governo Lula. Cansados de esperar pelas demarcações do Incra e pelas liberações do Ibama, sindicatos, prefeituras, políticos e posseiros da rica região sudoeste do Pará, responsável por 50% da produção de madeira do Estado, decidiram radicalizar para chamar a atenção de Brasília: vão fechar 30 pontos das estradas federais e interromper com toras a navegação do Amazonas na confluência do rio Tapajós, em Santarém, paralisando a principal via de comunicação entre Belém e Manaus.
- O governo Lula precisa mostrar se somos ou não importantes para o Brasil. Ele não nos mata nem nos deixa viver, diz Aldir Scmitt, presidente da Associação das Indústrias Madeireiras de Santarém e Região. - O Ibama é como um tsunami. Por onde passa, não sobra nada. Destrói indústrias e está acabando, em nossa região, com 50 mil empregos, dos quais dependem 300 mil brasileiros, afirma Luiz Carlos Tremonte, diretor do Sindicato da Indústria Madeireira do Sudoeste do Pará (Simaspa). Dono de uma madeireira em Itaituba, Tremonte vive um drama impensável no setor. Bloqueado pela burocracia, teve de comprar seis mil metros cúbicos de cedro no Estado vizinho, o Amazonas, para não abater os seus 800 empregados.
O cipoal de entraves produziu um nó na atividade econômica da região. Seis meses depois da posse de Lula, o Ibama suspendeu os Projetos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS), porque o Incra não tinha feito o geo-referenciamento que definiria a posse de terras numa região marcada pela histórica ausência de titulação e conflitos fundiários. Por isso, dos 78 PMFS solicitados, só 19 foram liberados na região de Santarém, agravando a crise de matéria-prima que ameaça derrubar a atividade madeireira. - A instrução do Ibama é contrária aos interesses ambientais (...). Suspender esses projetos de manejo desprotege áreas de uma atividade econômica que preserva a floresta (...) que certamente se tornará vítima do fogo, do desmatamento ou da exploração ilegal - denuncia o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará, Danilo Remor, em carta enviada na quarta-feira 5 à ministra Marina Silva, do Meio Ambiente.
Para resolver a crise, uma força-tarefa conjunta do Ibama e Incra programou uma reunião para Santarém em 7 de dezembro. Nesse dia, porém, 70 agentes da PF detonaram a Operação Faroeste na Amazônia, prendendo 18 pessoas envolvidas com a grilagem de terras da União – e acabaram pegando na sua rede oito peixes do próprio Incra. O mais graúdo deles era o superintendente do órgão no Pará, José Roberto Faro. Com esse vexame, a força-tarefa se dissolveu, nada aconteceu e o problema do setor madeireiro só se agravou. (Isto é, nº1840)