Exportações podem ter desflorestado Amazônia
2005-01-17
Novas evidências de que a rápida expansão do setor agrícola brasileiro,
impulsionada pelas exportações, está contribuindo para a derrubada da
floresta tropical amazônica surgem de um estudo que está sendo finalizado
por um grupo de importantes organizações ambientais.
No entanto, há indícios de que, na verdade, o governo estava consciente do
problema, depois de negar essa ligação durante anos.
As plantações de soja, a principal cultura, aumentaram mais de 50% desde
2001 e trouxeram para o Brasil mais de US$ 10 bilhões em divisa estrangeira
no ano passado. Embora os plantadores de soja geralmente não derrubem as
florestas, os autores do relatório dizem que eles propiciam o
desflorestamento ao empurrar os pecuaristas e plantadores de arroz para
dentro da floresta.
– A cultura de soja induz ao desflorestamento, empurra a fronteira agrícola,
disse Roberto Smeraldi, coordenador do estudo conduzido pelo Fórum
Brasileiro de 19 organizações ambientalistas, que incluem WWF, Greenpeace e
Amigos da Terra.
Temendo as restrições ambientais e críticas internacionais, o poderoso lobby
agrícola e partes do governo rejeitaram durante anos a ligação entre a
agricultura mecanizada em larga escala e a degradação da maior floresta
tropical do mundo. Nesta semana, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), um banco de
cérebros do governo, afirmou que a maior parte do crescimento da produção de
soja nos últimos anos veio da expansão de terras agrícolas existentes e da
transformação de pastos, e não de florestas. Preparar a floresta para a
cultura de soja exige tempo e infra-estrutura, diz o relatório.
No entanto, usando fotografias aéreas, os grupos ambientalistas mostraram
que a floresta derrubada no norte do Estado de Mato Grosso no ano passado
foi plantada com soja logo depois. Ao mesmo tempo, a área de gado e arroz em
áreas próximas, antes de floresta, aumentou de fato, aparentemente deslocada
pelas fazendas de soja. Os pesquisadores admitem que essa área talvez não reflita toda a região
amazônica, mas muitos ambientalistas temem que o avanço da agricultura para
a Amazônia possa se intensificar.
– O objetivo do estudo foi conscientizar as autoridades do problema e
trabalhar com elas em busca de soluções, disse André Lima, co-autor do
estudo e coordenador de reflorestamento do Instituto Sócio-Ambiental (ISA),
em Brasília.
Roberto Rodrigues, o ministro da Agricultura, agora indicou um assessor
especial para assuntos amazônicos e produziu um documento que inclui
propostas como o aumento de impostos para o desflorestamento legal e
critérios ambientais para empréstimos agrícolas.
O governo também está trabalhando em um mapa do uso da terra na Amazônia
para melhor regulamentar a agricultura. Alguns ambientalistas pedem que os
negociantes adotem voluntariamente critérios ambientais para a compra de
grãos. (Financial Times 14/01)