Dizimado por um fungo, caranguejo é cada vez mais raro no Nordeste
2005-01-13
Tem sido raro encontrar caranguejos na região Nordeste do Brasil. A razão para a escassez são as altas taxas de mortandade da espécie uçá. Na Bahia, onde havia concentração dos crustáceos, um levantamento recente mostrou que pelo menos a metade da população desses caranguejos desapareceu. Na Paraíba, as baixas chegam a 85%. Os cientistas que investigam o sumiço dos caranguejos acreditam que eles estejam sendo vitimados por uma doença causada pela presença de um fungo do filo Azcomycota.
A hipótese é baseada no fato de o fungo aparecer no tecido nervoso dos bichos mortos. Alojado no caranguejo, ele limita sua capacidade motora a ponto de impedir que se locomova para procurar comida – e por isso uma parte dos uçás estaria morrendo de fome.
Segundo os técnicos, o restante dos caranguejos estaria desaparecendo porque a presença do fungo Azcomycota também enfraquece a capacidade cardíaca dos crustáceos. Por esses sintomas, a enfermidade foi batizada de doença do caranguejo letárgico. – Tudo indica que o fungo seja a causa do problema, diz Walter Boerger, coordenador da pesquisa feita pela Universidade Federal do Paraná, que será concluída nos próximos meses. Trata-se da mesma doença que, desde o fim do ano passado, também vem exterminando caranguejos no Litoral Sul de São Paulo.
O que permanece ainda como um mistério para os cientistas é a origem dos fungos que estariam dizimando os uçás. Uma equipe do Laboratório de Biotecnologia de Manguezais, da Universidade de São Paulo, trabalha com a hipótese de a doença proliferar nas águas poluídas pelas criações de camarões, vizinhas aos mangues onde vivem os caranguejos. Para os pesquisadores, a maior evidência disso é o fato de a enfermidade dos uçás surgir na rota onde os camarões passaram a ser cultivados.
– Os camarões depositam na água fungos, vírus e bactérias presentes no próprio organismo e que são arrastados para o habitat dos uçás, explica o biólogo Clemente Coelho.
Enquanto ainda investigam a doença dos caranguejos, os pesquisadores da Universidade do Paraná tomaram uma medida prática: eles vão iniciar um projeto para repovoar os mangues desérticos com larvas das fêmeas que sobreviveram ao contato com o fungo. (Veja 12/1)