EUA tem 30 mil vagões-tanque fora do padrão de segurança
2005-01-12
E. San Martin (Nova York)
O descarrilamento de um trem de carga, no estado da Carolina do Sul levou as autoridades dos serviços de segurança dos Estados Unidos reconhecerem que mais de 50% dos vagões-tanque do sistema ferroviário dos Estados não estão de acordo com o padrão de segurança industrial para transporte de materiais tóxicos. O todo são cerca de 60 mil vagoes-tanques de material tóxico circulando pelo país.
O acidente da quinta-feira (06/01) na Carolina do Sul causou um enorme vazamento de gás clorídrico, deixando um rastro de oito mortes e 58 feridos, além de exigir a evacuação dos residentes num raio de 1,5 km do local do vazamento. Este foi o segundo acidente desta natureza em menos de dez meses. O outro foi no Texas e os dois se encontram sob investigação, sendo desconhecida a causa do descarrilhamento.
Segurança Nacional
Desde 2002, o F.B.I (Federal Bureau of Investigation) tem emitido alertas para as indústrias sobre o perigo destes vagões-tanques fora do padrão de segurança servirem como armas químicas para terroristas. Até o momento, entretanto, apenas uma das empresas de transporte de carga teria tomado a iniciativa de desviar os carregamentos de substâncias tóxicas de rotas próximas a possíveis alvos, de acordo com Walt Bogdanich, do New York Times. Este tipo de carga ainda passa a quatro quarteirões do Capitólio, o centro e sede do governo dos EUA.
Risco consensual
Na prática, por outro lado, os Estados Unidos precisam manter cerca vagões deste tipo em circulação. Assim, a maioria das transportadoras e companhias ferroviárias limitaram-se a reforçar a segurança sempre que o Departamento de Home Security as previne contra possíveis atentados. Só em outubro de 2001, na semana que os EUA invadiram o Afeganistão, todas as empresas de transporte ferroviário concordaram em suspender o transporte de materiais tóxicos por 72 horas.
30 mil vagões
O problema, entretanto, é maior do que a ameaça terrorista. Mais de 30 mil dos vagões-tanques em operação no país não são revestidos de aço tratado para resistir ao calor, mantendo quem mora junto à rede ferroviária sob risco constante. O exemplo mais conhecido e marcante deste perigo ocorreu há três anos, em Minot, uma cidade ferroriviária de Norte Dacota, quando um trem da empresa canadense Pacific Railway descarrilhou, causando a ruptura de cinco vagões-tanques com gás de amônia liquefeito. Na ocasião, o Escritório Nacional de Segurança dos Transportes (NTSB) disse que os vagões sofreram uma -ruptura catastrófica-, com os tanques se estilhaçando e espalhando uma espessa nuvem tóxica, que exigiu a hospitalização emergencial de mais de 300 pessoas. O acidente causou apenas uma morte por intoxicação por ter ocorrido em zona rural de baixa densidade demográfica.
Dimensão política
Segundo técnicos do National Transportation Safety Board, só os vagões tanques construídos a partir da década de 90 apresentam maior resistência, seja contra o calor, perfuração ou ruptura por colisão. - Existem, entretanto, milhares de containers deste tipo que continuam em serviço a mais de 50 anos, explicou um portavoz do NTSB (National Transportation Safety Board). Os novos containers, por outro lado, não garantem a segurança ambiental por onde transitam. O vagão tanque que vazou na Carolina do Sul é da nova geração, com certificado para rodagem posterior aos atentados de 11 de setembro de 2001, quando o perigo ganhou uma dimensão política.
Lei tóxica
- O problema é que os atuais testes de segurança destes vagões não são suficientemente abrangentes, comentou um portavoz da administração federal de ferrovias, acrescentando que as empresas prefeririam não transportar materiais tóxicos em seus trens, mas elas são obrigadas por lei a fazê-lo. Além de substâncias tóxicas, estes tanques pressurizados também transportam lixo químico de estações sanitárias e esgoto de complexos industriais. Para Rick Hind, um especialista em lixo tóxico da Greenpeace, a melhor solução ainda seria as indústrias substituírem estes materiais altamente venenosos por outros menos tóxicos.