Entidades criam frente de defesa do Rio São Francisco
2005-01-10
Com a criação ontem da Frente Nacional em Defesa do Rio São Francisco e contra a Transposição, a perspectiva agora é de que seja fortalecido ainda mais o movimento contra a transposição do Velho Chico. A decisão saiu de uma reunião, na noite do dia 6 de janeiro, com representantes de diversas entidades que lutam contra o projeto apresentado pelo Ministério da Integração Nacional. A idéia é de que a frente possa reunir a vasta parcela da opinião pública situada sobretudo nos estados da bacia (Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e Sergipe) que questiona a conveniência desta obra.
- Estamos nos unindo contra a forma autoritária que o governo vem tentando impor este projeto, sem configurar os riscos que os métodos usados representam para a democracia brasileira. As atitudes do governo federal no encaminhamento deste projeto está rasgando a Constituição brasileira, rasga a Lei Nacional dos Recursos Hídricos e atropela o Plano da Bacia do Rio São Francisco, avalia o representante do Fórum de Defesa Ambiental de Alagoas, Anivaldo de Miranda Pinto.
Falhas do projeto foram pontos levantados durante a reunião. Uma delas é de que a capacidade de reserva de água do estado do Ceará, previsto como receptor das águas da bacia do São Francisco no atual projeto, equivale a 17,5 bilhões de metros cúbicos, enquanto a capacidade dos estados de Alagoas e Sergipe estão bem aquém, sendo respectivamente, 110 milhões de metros cúbicos e 80 milhões de metros cúbicos. Com o projeto, a intenção do Ministério de Integração Nacional é doar 63m3/s de água para o abastecimento dos estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Também foi levantado que enquanto o governo estima um orçamento de US$1,5 bilhão, há obras no perímetro da Bacia do Rio São Francisco de irrigação inacabadas equivalentes a 180 mil hectares. – Não se justifica usar essa água para projetos de irrigação 700km além da bacia. Não somos contra investimentos em recursos hídricos nos estados receptores, a questão é que seja um investimento racional. E essa é uma obra que não vai resolver o problema dos nordestinos. Ao invés de unificar, prevê a divisão da nação nordestina, pontua Anivaldo Pinto.
Diretora do Instituto de Ação Ambiental da Bahia (Iamba), Kitty de Queiroz Tavares afirma que a criação da frente é de extrema importância na mobilização política envolvendo diversos setores e segmentos. – Essa frente é uma voz só, uníssona da defesa do São Francisco, opina. Durante a reunião foi determinada a criação de três comissões: comunicação, mobilização e jurídica, que ficarão responsáveis por reunir as iniciativas que já existem dos diversos segmentos. A próxima reunião da frente foi marcada para o dia 17 de janeiro, em Brasília, mesmo dia em que ocorre a reunião do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. (Correio da Bahia 7/01)