Ex-secretário prevê confronto entre secretarias
2005-01-06
Por Guilherme Kolling (Porto Alegre)
A trajetória de Caio Lustosa, 70, é parecida com a do novo secretário do Meio Ambiente de Porto Alegre, Beto Moesh. São dois advogados, ligados ao movimento ecológico - Lustosa foi vice-presidente e Moesch é conselheiro da Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural), e vereadores que tiveram o mandato marcado pela defesa ao meio ambiente.
- Fui o primeiro do país a ser eleito pela proposta ecológica, ressalta Lustosa, que esteve na Câmara de Porto Alegre de 1983 a 1988. Filiado ao PMDB e depois ao PSDB, foi convidado para ser o secretário de meio ambiente da primeira administração do PT, de Olívio Dutra, na capital gaúcha, em 1989. Moesch, do PP, também recebeu o convite de outro partido para assumir a Smam ao final de seu primeiro mandato.
É mais um ambientalista que assume a Secretaria. A tarefa é difícil, porque nem sempre o secretário tem força para assegurar suas propostas. - O embate com outras áreas é constante, resume Caio Lustosa, que assumiu disposto a incluir o enfoque ambiental em todas as questões da cidade.
- O Beto Moesch também vai sofrer pressão. O novo Plano Diretor, por exemplo, vai ser modificado agora. E quem está no Planejamento? O Isaac Ainhorn, que é alinhado com a construção civil. Aí ocorre o embate, avalia.
Queixas
Lustosa fala por experiência. Na sua gestão (1989-92), criou um projeto para monitorar as 100 maiores indústrias poluidoras de Porto Alegre. Interditou a DHB, de componentes mecânicos. A empresa era do presidente da Fiergs na época, que foi se queixar ao vice-prefeito Tarso Genro. - Fizemos uma fiscalização séria. O dono da fábrica da Mu-mu também reclamava que éramos muito exigentes. Aí vinha o secretário do Planejamento se queixar por causa da questão do emprego, revela. Também repercutiram ações na Avipal, e no Hotel Plaza São Rafael, que lançava fumaça num prédio vizinho. Outra iniciativa polêmica de Lustosa foi intervir na obra do Shopping Praia de Belas para salvar um umbú. - O grande problema da Smam é que as tarefas entram em conflito com o interesse de quem domina a cidade, do interesse econômico. Eu senti isso na pele, cheguei a pedir demissão quatro vezes, mas o Olívio resistiu, conta.
Para o advogado, a legislação ambiental local é a melhor do mundo, mas o problema é a execução. - O trabalho depende de estrutura para fiscalizar e do apoio, do aval do prefeito, aponta Lustosa, cujo antecessor foi derrubado por ter enfrentado o problema das pedreiras no Morro Santana.
Falando ainda das dificuldades, ele cita casos famosos como o de José Lutzenberger, que não conseguiu vencer a burocracia de Brasília, e da própria ministra Marina Silva, que não esconde o desconforto da posição do Governo Federal em questões como a dos transgênicos. - O primeiro país a ter ministro do Meio Ambiente foi a França. E o ministro ao ver as condições de trabalho, definiu-a, com muita propriedade: Missão Impossível.