Sociedades devem se organizar para lidar com a mudança climática antes da próxima surpresa
2004-12-30
As consequëncias negativas de uma grande virada do clima podem ser mitigadas se ela acontecer aos poucos, ou se for esperada. Antecipando a seca, um agricultor consegue cavar um poço, aprender a plantar culturas menos dependentes de água ou simplesmente se mudar para outra região. Mas alterações inesperadas podem ser devastadoras. Um único ano de seca que surja de surpresa arruinaria só os agricultores mais pobres ou despreparados, mas o prejuízo cresce à medida que a estiagem se alonga. Infelizmente, os cientistas têm pouca capacidade de prever quando e como uma mudança climática abrupta acontecerá.
Investigações úteis
Apesar das conseqüências potencialmente gigantescas de uma alteração repentina no clima, a maioria esmagadora da pesquisa e das políticas públicas na área tem se dedicado a mudanças graduais - como a necessidade de reduzir as emissões de carbono para desacelerar o aquecimento global. Embora reduções como essa provavelmente ajudem a limitar a instabilidade climática, também deveríamos pensar em como evitar mudanças bruscas. No limite, poderíamos decidir ignorar de vez o risco e esperar que nada aconteça.
O despreparo afundou o Titanic, mas vários outros navios despreparados cruzaram o Atlântico Norte incólumes. Ou poderíamos, por outro lado, mudar nosso comportamento a fim de tornar menos provável uma alteração catastrófica. Novas investigações devem revelar outras ações úteis.
Entendendo adaptação e fracasso
Uma terceira estratégia seria fazer com que as sociedades se organizassem para lidar com mudanças climáticas bruscas antes que a próxima surpresa nos apanhe, como sugeriu o Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA, ao observar que algumas sociedades se adaptaram à mudança climática, enquanto outras tombaram. Os colonos vikings da Groenlândia abandonaram seus assentamentos quando o início da Pequena Idade do Gelo tornou a vida insustentável, enquanto seus vizinhos, os esquimós de Thule, sobreviveram sem maiores problemas. Entender o que separa a adaptação do fracasso seria útil.
Planos para amenizar os problemas caso uma crise se instale podem ser feitos a custo baixo ou nulo. Comunidades podem plantar árvores agora a fim de ajudar a manter o solo durante a próxima estação seca e ventosa, por exemplo, e fazer acordos neste momento sobre quem terá acesso a quais recursos hídricos quando esse bem se tornar mais escasso.
Por ora, parece que as pessoas estão sacudindo o barco, empurrando certos aspectos do clima para mais perto dos limites capazes de detonar mudanças repentinas. Eventos do gênero não causariam uma nova era glacial, nem fariam algo que rivalizasse com a mente fértil dos roteiristas de cinema. Mas poderiam trazer desafios incríveis para a vida na Terra. Vale a pena considerar de que forma as sociedades aumentariam sua resistência às conseqüências disso - ou, antes de mais nada, como evitar que a canoa vire.
(Scientific American 29/12)