Incertezas tornam uma improvável nova era glacial, possível
2004-12-30
Oito mil anos se passaram desde a última grande onda de frio no Atlântico Norte. Será que os seres humanos estão jogando o seu peso do lado certo para evitar que a canoa do clima vire? Talvez, mas a maioria dos climatologistas suspeita que estejamos deixando o barco ainda mais instável. Especialmente preocupante é o aumento, induzido pelo homem, das concentrações de gases-estufa na atmosfera, que provocam o aquecimento global. O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), órgão ligado à ONU, previu em seu último relatório que as temperaturas médias globais subirão de 1,5oC a 4,5oC nos próximos cem anos. Muitos modelos de computador consistentes com essa previsão também prevêem que a convecção do Atlântico Norte perderá força. (Pode parecer irônico, mas o aquecimento gradual levaria a um resfriamento repentino de muitos graus.) As incertezas são muitas e, embora uma nova era glacial seja improvável, as mudanças poderiam ser bem maiores do que durante a Pequena Idade do Gelo, quando o Tâmisa congelou em Londres e as geleiras rolaram pelos Alpes.
Seca do frio
Talvez mais preocupantes que os períodos de frio no norte sejam os efeitos adversos que ocorreriam ao mesmo tempo em outras partes do mundo. Registros climáticos em vastas porções da África e da Ásia que se beneficiam de uma estação chuvosa intensa indicam que essas áreas tornaram-se particularmente secas sempre que o Atlântico Norte ficou mais frio. Até o resfriamento produzido por uma redução na intensidade da circulação convectiva bastaria para disparar a seca. Já que as lavouras de bilhões de pessoas dependem da estação chuvosa, mesmo uma seca modesta pode provocar fome. As conseqüências de uma futura perda de salinidade do Atlântico Norte podem dificultar até a vida de pessoas que vivem fora dos extremos de seca e frio. Tais projeções fizeram com que o Departamento de Defesa dos Estados Unidos encomendasse à instituição Global Business Network uma análise das ameaças à segurança nacional que seriam causadas pelo desligamento total do cinturão convectivo. Muitos cientistas acham que uma desaceleração gradual é muito mais provável que uma interrupção completa; de qualquer forma, a gravidade das conseqüências do pior cenário faz com que ele mereça consideração. Como afirma a Global Business Network: ? As nações com recursos podem erguer barreiras em volta de seus territórios, preservando esses recursos para elas mesmas. Nações com menos sorte... teriam de lutar por comida, água limpa ou energia. (Scientific American 29/12)