Geógrafo da USP duvida do controle da exploração sustentável das Florestas Nacionais
2004-12-28
Em entrevista a revista Carta Capital, o geógrafo e presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Aziz Nacib Ab Saber, destaca que o enfrentamento de questões ambientais é muito variável num país do tamanho do Brasil. Na Amazônia, a situação no momento é de grande periculosidade, devido à descoberta que os capitalistas fizeram em relação aos recursos da floresta e também à descoberta de outros tipos de riquezas ligadas ora à floresta, ora às água, ora ao subsolo.
Na sua opinião, a Amazônia deve estar em primeiro lugar nas preocupações ambientais nacionais porque em razão do sistema extrativista bastante simplório do passado, a Amazônia restou com alto nível de biodiversidade sobre grandes espaços. Quanto a exploração de minérios, destaca a violência com que ela é feita. Outro ponto é que o Brasil exporta a matéria-prima em grosso e os compradores tiram valor agregado. Há também o problema constitucional: o subsolo não pertence ao proprietário, mas à nação.
Aziz fala também de um olhar diferenciado dos estrangeiros sobre a Amazônia. - Existe uma cobiça, bastando ser dito que uma das coisas que mais nos irritam é que, nos EUA, fizeram um mapinha do Brasil separando por uma faixa simbólica a Amazônia do resto do País - reflete. Defende ainda que as estradas são indutoras de devastação. Um exemplo foi a ligação feita entre a Amazônia e o Brasil Centro-Sul. Faltou, na época, um estudo de previsão de impactos.
O geógrafo reconhece a dificuldade de controlar a exploração na área. - Para uma área muito grande, a gente tem de perdoar o governo. Como ele vai controlar essas áreas imensas? - desabafa. Aziz conta que quando o atual governo se instalou, ele fez uma proposta de conhecimento mais integrado e sub-regional da Amazônia. Enviou a proposta, que contava com equipes especializadas no assunto, e não recebeu nenhuma resposta do governo. Ele fala ainda que a sustentabilidade não está em cortar uma árvore e plantar uma muda pois uma muda não consegue varar o dossel das árvores, enquanto aquelas que estão no meio da mata têm 70, 120, até 500 ou mais anos. (Carta Capital, 28/12)