Plantio de coca no Peru ameaça reservas ecológicas
2004-12-22
O narcotráfico tem realizado suas operações em parques naturais protegidos pelo Estado, onde está fazendo plantações de coca ilegais, revelou o governo peruano. A planta de coca é usada pelo tráfico para fabricar o cloridrato de coca, a cocaína. Nos últimos anos, estes cultivos avançaram sobre as reservas, como conseqüência das ações de erradicação que o governo está implementando nas áreas de plantio, afirmou Lucio Batallanos, gerente do Meio Ambiente da Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Vida Sem Drogas (Devida). Os estudos do especialista apontam que há um processo de migração dos cocaleros para as áreas naturais porque nestas regiões existem terras boas para o cultivo da planta de coca e com pouca fiscalização. Batallanos informou que as 58 reservas naturais que o Peru possui, na realidade, não estão protegidas porque seria necessária uma quantidade maior de policiais para vigiá-las, o que significaria um gasto que o governo não pode assumir. O funcionário informou que, segundo suas estimativas e de outros especialistas em meio ambiente, os danos causados até agora pelo tráfico são de aproximadamente US$ 4,5 bilhões. Segundo os cálculos, este número de US$ 3,4 bilhões corresponde aos prejuízos da produção madeireira, 102 milhões em produção agroflorestal e 23 milhões em recursos animais, entre os principais setores afetados. ? Diversos estudos indicam que a produção de cocaína gera um lixo anual de mais de 17,7 mil toneladas de substâncias químicas, que são despejadas nos rios e correntezas da bacia amazônica peruana, acrescentou.
Diante da escassa vigilância policial, grupos de agricultores aproveitam para plantar a coca em regiões próximas aos parques, que são relativamente protegidas.
O relatório de Devida afirma que existem plantações ilegais de coca e papoula nos parques naturais de Bahuaja Sonene, fronteira com a Bolívia; Tingo Maria (selva central), Yanachaga-Chemillen, Cordillera Azul, localidade de Tocache (selva central), San Matías e San Carlos, entre outros. O departamento de San Martín (selva norte-oriental) é o mais afetado pelo plantio em função da migração de cocaleros apoiados por traficantes que fornecem sementes, insumos e financiam seus gastos até que se possa colher a folha da coca. Além disso, segundo Devida, há laboratórios clandestinos nestas áreas para fabricar a pasta básica de cocaína, passo anterior à elaboração do cloridrato de cocaína, processo em que se usa mais de 30 insumos químicos. Os mais letais para o meio ambiente são o querosene, ácido sulfúrico, permanganato de potássio, lixívia e acetona. Estas substâncias não apenas inutilizam a terra para qualquer cultivo, como podem contaminar os rios cuja água e peixes as populações indígenas consomem. (Terra 20/12)