Pneus viram casas e dão prêmio a gaúcho
2004-12-20
A rotina do pássaro joão-de-barro, que constrói o próprio ninho com fibras, pequenos galhos e terra em sete dias, inspira o projeto Casas Populares Bom-Plac em Santa Cruz do Sul, reconhecido mundialmente na última semana.
Desde 1998, o engenheiro civil Leandro Agostinho Kroth, 43 anos, desenvolve moradias com pneus triturados, areia, cimento e água na Secretaria de Habitação do município do Vale do Rio Pardo. A iniciativa recebeu o Prêmio Mundial Energia Global para a Sustentabilidade na categoria Terra, uma espécie de Oscar da área ambiental. É a primeira vez que o Brasil conquista o primeiro lugar.
Há cinco anos, os jurados de cinco continentes escolhem idéias com tecnologia diferenciada, inovadoras na preservação ambiental e com finalidade social que possam ser reproduzidas pelo mundo. Neste ano, houve 972 trabalhos inscritos oriundos de cem países. O projeto brasileiro é a dissertação de Kroth denominada Habitação de Interesse Social - Sistema Construtivo Bom-Plac, que será defendida na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Com reciclagem, redução de custos é superior a 70%
No dia 27 de abril de 2005, o gaúcho receberá um prêmio de 10 mil euros em uma festa de gala em Nagoya, no Japão. Uma organização não-governamental austríaca pretende firmar um convênio com o Brasil para adaptar o Bom-Plac na Albânia, país com graves problemas de habitação.
- O objetivo é gastar o mínimo para garantir o máximo de habitações a famílias pobres e dar um destino aos pneus - diz Kroth.
Com o método, uma casa de 60 metros quadrados com três dormitórios, sala, cozinha, banheiro e área de serviço que custaria R$ 40 mil passa a custar R$ 9 mil - uma redução superior a 70%.
- Enfrentamos muitas críticas. Mas conseguimos despertar interesse internacional, e esperamos que o governo federal nos valorize - afirma o engenheiro.
O especialista em edificações e comunidades sustentáveis Miguel Sattler, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), acredita que sejam necessários estudos mais aprofundados para verificar se o projeto traz benefícios:
- A espessura da parede, fina, não oferece conforto porque pode não isolar sons externos. Outro problema são os metais pesados presentes nos pneus triturados, que podem ser nocivos à saúde. (ZH 19/12)