As corporações frente a Era da Verdade - Artigo
2004-12-20
Por Hazel Henderson (*)
É tempo agora de as grandes corporações fazerem contas para se adaptarem às novas realidades da economia global do século XXI. A primeira Revolução Industrial se baseou em combustíveis fósseis, no uso intensivo de recursos naturais e em uma concepção materialista de bem-estar e progresso. Tudo isto está mudando na Era da Informação e com as tecnologias mais limpas e mais verdes da nova Idade da Luz, que utilizam recursos renováveis. A adaptação a estas mudanças é o desafio atual de todas as corporações.
Ao mesmo tempo, devem enfrentar o desafio da nova superpotência do mundo: a opinião pública global. Seu poder para fazer e desfazer companhias, marcas e reputações em toda a extensão do mundo mercantil eletrônico obriga também a uma adaptação à Era da Verdade. Muitas companhias fracassarão nos testes na medida em que tentarem fazer com que suas operações pareçam respeitar o meio ambiente apenas por meio de campanhas publicitárias. Outras tratarão de atuar ecologicamente, comprometendo-se a adotar os dez princípios de bom comportamento social contidos nas convenções das Nações Unidas.
A efetiva colocação em prática de tais compromissos por parte destas últimas é agora crescentemente controlada por legiões de organizações cívicas e firmas de auditoria, incluindo SA International, de Nova York e Londres, SustainAbility e AccountAbility, ambas com sede na Europa, e Asria, de Hong Kong. Também se observa a busca de um manejo ético empresarial nos âmbitos social e ambiental por parte das empresas de investimento socialmente responsáveis. Todas estas organizações atuam precavidamente diante da possibilidade de encontrar escondidas companhias do tipo das tristemente famosas Enron, WorldCom, Parmalat e Halliburton.
Este controle da ética das empresas e de seus reais objetivos financeiros, bem como de seus compromissos para enfrentar os crescentes problemas do mundo, mantém as companhias sob observação. Também estão na mira da opinião pública os compromissos empresariais de aliviar a pobreza, a doença, a destruição ambiental e de ajudar a atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio. O empresário norte-americano e crítico empresarial Paul Hawken observou atentamente os fundos de investimento socialmente responsáveis (ISR) e seus vários critérios para examinar as companhias que têm em suas carteiras. Este crescente segmento dos mercados de capital necessita de tal pressão para melhorar constantemente seus métodos para medir a atuação social, ambiental e ética de todas as companhias.
O crescente debate sobre os ISR constitui uma tendência muito positiva, já que os critérios éticos mais exigentes determinarão o futuro do próprio capitalismo. Por certo que esta eventual remodelação do capitalismo a fim de conservar o meio ambiente afetará a sobrevivência da humanidade neste pequeno planeta. A crítica de Hawkens é apenas um aspecto de uma questão muito mais ampla: pode o atual modelo de capitalismo e sua globalização das finanças, dos mercados do comércio e dos sistemas monetários continuar operando com suas concepções tradicionais sem realizar reformas radicais?
Ao enfocar criticamente o emergente segmento de ISR do ainda dominante modelo de capitalismo social e ambientalmente destrutivo obviamente se reforçará este arraigado modelo com seu enorme poder, capacidade de pressão e influência política e controle dos meios de comunicação de massa. Essas forças do capitalismo reacionário, sejam de Wall Street, Frankfurt, Londres ou Hong Kong, e as companhias que continuam utilizando o velho e insustentável sistema industrial baseado nos combustíveis fósseis, darão boas-vindas às críticas dirigidas aos ISR. Isto é algo desafortunado, já que sabemos por experiências anteriores o quanto freqüentemente o perfeccionismo, a utopia e o desejo visionário podem eliminar o bom, da mesma forma que o teoricamente melhor pode excluir o melhor. Reformas positivas como os ISR necessitam tempo e espaço para experiências.
Atualmente vivemos em midiacracias sejam quais forem nossos sistemas políticos. Os meios de comunicação fabricam políticas, modelam a cultura e educam nossos filhos para melhor ou para pior. A publicidade empresarial leva a um consumismo insustentável e a mercados financeiros atrelados ao constante crescimento do PIB e dos lucros das empresas. Por estas razões fundei o Ethical Markeplace como uma plataforma multimídia global para elevar os níveis, os parâmetros e o comportamento ético de todos os atores do mundo mercantil através do poder da informação e dos meios de comunicação. (IPS/Envolverde Dezembro)
(*) Hazel Henderson é economista norte-americana e autora de Beyond Globalisation (Além da Globalização).