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2004-12-16
A chegada da era da informação prometia um mundo mais limpo, livre de toneladas de papel e materiais desnecessários. Em lugar de equipamentos cheios de graxa e tinta, como máquinas de escrever ou mimeógrafos, as pessoas passaram a usar computadores cada vez menores. Os filmes fotográficos, que necessitam de substâncias químicas para ser revelados, vão sendo substituídos por versões digitais. Mas, ao contrário do que se imaginava, as lixeiras do mundo continuam crescendo. É um novo lixo digital, tão ou mais tóxico que as peças e engrenagens descartadas pelas máquinas das décadas passadas.

Um simples chip eletrônico, menor que a unha de um mindinho, exige 72 gramas de substâncias químicas e 32 litros de água para ser produzido. – O condado de Santa Clara, na Califórnia, o berço da indústria de semicondutores, contém mais zonas de lixo tóxico que qualquer outra região dos Estados Unidos, explica Radhika Sarin, ativista da organização ambiental Earthworks.

O governo americano estima que três quartos de todos os micros que já foram vendidos no país estejam jogados em porões, esperando por um destino final. Os que vão para o lixo terminam em aterros sanitários ou incineradores. Cerca de 70% dos metais pesados dos aterros vêm de lixo eletrônico. A incineração despeja na atmosfera substâncias tóxicas e cancerígenas, como as dioxinas. Para se livrar delas, o Primeiro Mundo envia seus computadores velhos para desmanche na Índia, na China e no Paquistão.

O crescimento exponencial da quantidade de aparelhos vendidos - e também descartados - é o que mais preocupa no lixo digital. O número de computadores pessoais no mundo cresceu cinco vezes de 1988 a 2002. Hoje, são mais de 500 milhões. Mas além deles há 1,14 bilhão de celulares, que não passam de computadores de bolso. No Brasil, o número de aparelhos obsoletos também cresce. A empresa Itautec Philco, uma das principais fabricantes, calcula que sejam descartados 3 milhões de computadores todo ano. Só o que eles contêm de chumbo (um metal pesado) em soldas, baterias e circuitos integrados é o equivalente a 1.900 toneladas. Estima-se que até 1999, no Estado de São Paulo, 12 milhões de baterias de celulares já tinham ido para o lixo. O Ministério do Meio Ambiente acredita que, entre 1996 e 1999, tenham sido descartadas, em todo o Brasil, 11 toneladas de baterias. Cerca de 80% delas tinham a combinação de níquel e cádmio, a mais tóxica.

Maior parte dos computadores usados dos países desenvolvidos vai para desmanches na China, na Índia e no Paquistão
- Por serem portáteis, os celulares são mais fáceis de descartar que os computadores. Mas eles também são melhores para reciclagem, diz Molly Sheehan, pesquisadora do Instituto Worldwatch, de Washington. Há seis anos uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente obriga os fabricantes, no Brasil, a coletar, armazenar e reciclar as baterias - desde que o cliente as leve até as lojas. A Motorola coleta, no país, 20 toneladas de baterias por ano. Esse material é enviado a uma empresa francesa especializada no desmonte e reuso do que puder ser reaproveitado. Além de poupar o ambiente, a iniciativa dá lucro. Nos últimos dois anos, a operadora Vivo captou 7 mil baterias e as revendeu a empresas no exterior. Os R$ 160 mil arrecadados foram doados a entidades assistenciais.

COMPUTADOR VELHO
Usuário doméstico: o Museu do Computador, em São Paulo, aceita computadores velhos para doação. Tel. (11) 5521-3655
Empresas: usuários corporativos podem doar os computadores aos Centros de Recondicionamento de Computadores, do governo federal. E-mail: projeto.ci@planejamento.gov.br
Qualquer um: a empresa Planac, de São Paulo, compra os equipamentos velhos. Tel. (11) 2106-2300

- As pessoas vêem o lixo de forma equivocada, pois são materiais recicláveis que devem ser olhados com mais atenção, explica o economista Sabetai Calderoni, da Universidade de São Paulo. Especialistas avaliam que 94% dos componentes dos computadores podem ser reciclados. A Itautec já descobriu isso. No ano passado, ela faturou R$ 195 mil com a venda de material usado, reaproveitado dos micros que estavam obsoletos nos escritórios da empresa. – Poucas empresas se conscientizaram da reciclagem. O que antes era resíduo passa a ser matéria-prima rentável, comenta João Carlos Redondo, gerente de Administração Patrimonial da Itautec. Quanto mais empresas fizerem o mesmo no Brasil, maior o mercado para firmas especializadas no serviço. Enquanto isso, as placas eletrônicas da Itautec têm de ser enviadas a uma empresa de reciclagem em Cingapura.

Uma das poucas firmas brasileiras que reaproveitam os computadores usados em larga escala é a Planac, que compra micros obsoletos dos clientes corporativos da IBM. Nos últimos cinco anos a Planac já reciclou 20 mil aparelhos. Os reusados são vendidos a partir de R$ 699. (Época, nº343)

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