O governo britânico adia obra para tirar esgoto do Tâmisa, que era exemplo mundial de despoluição
2004-12-15
Por José Alberta Gonçalves (Londres)
Às vésperas das eleições gerais no Reino Unido, previstas para maio, o medo de perder eleitores levou o governo trabalhista a postergar decisão crucial para o processo de despoluição do Rio Tâmisa, em Londres. Nem mesmo as imagens de milhares de peixes mortos às margens do estuário no início de agosto o comoveram. Após escaldantes negociações, o governo engavetou o projeto de um túnel de 36 quilômetros debaixo da calha do Tâmisa. Ao custo de 1,5 bilhão de libras, o túnel coletaria o esgoto não-tratado antes de escorrer para o rio. Segundo Jon Goddard, gerente-técnico da Agência Ambiental da Inglaterra, a cada ano 20 milhões de toneladas de esgoto são despejadas em suas águas, matando peixes e espalhando bactérias e vírus. Isso ocorre quando chove, por causa da limitação das tubulações. O fenômeno das mudanças climáticas está agravando o problema, à medida que as chuvas se tornam mais freqüentes e intensas. ? É inaceitável colocar esgoto no rio em pleno século XXI, protesta Jenny Bates, da Amigos da Terra.
No dia 2 de dezembro, o Ofwat, agência reguladora dos serviços de saneamento, anunciou suas metas e os reajustes nas contas de água entre 2005 e 2010, sem contemplar o túnel. Sua inclusão obrigaria o Ofwat a autorizar um reajuste superior aos 24% concedidos à Thames Water (que opera tais serviços em Londres). Como alternativa, o governo propôs o uso de barcos para injetar oxigênio, opção muito mais barata.
Para a Agência Ambiental, porém, embora possam salvar os peixes, eles não operam em qualquer trecho nem resolvem o problema de saúde pública. ? Não é sustentável limpar a sujeira após os despejos, diz Goddard. Muito ainda precisa ser feito, mas há conquistas inegáveis da megaoperação de despoluição do Tâmisa, que inspirou dezenas de outros programas pelo mundo. Na década de 1950, nem a valente enguia sobrevivia no estuário. Hoje, 45 espécies de peixe o visitam regularmente. (Época nº343)