Mogno: Ibama não libera exportação
2004-12-09
Apesar de ter autorizado, num processo colocado sob suspeita, a liberação da
serragem e venda de um lote de mogno doado a uma ONG (Fase), a diretoria de
Floresta do Ibama está criando empecilhos à liberação de lotes da espécie
já autorizados pela Justiça através de ação impetrada pela empresa Serraria
Marajoara - Indústria, Comércio e Exportação Ltda., que provou que a madeira
fora adquirida e processada dentro das normas estabelecidas pelo próprio
órgão, o que caracteriza uma contradição.
A empresa obteve na Justiça o direito de exportar um lote de 3.179,91 m³,
devidamente vistoriada pela regional do Ibama no Pará. Após a emissão da
instrução normativa Nº 17, que proibia o corte, industrialização e
comercialização da espécie, a empresa recorreu à Justiça para obter o
direito de exportar esse lote que havia entrado em seus estoques antes da
proibição governamental.
O processo correu na 2ª Vara da Justiça Federal, em
Belém (PA), e após três anos, o juiz Francisco de Assis Garcês Castro Júnior
deferiu o pedido, determinando ao Ibama a liberação do lote e a emissão de
toda a documentação necessária para que a empresa pudesse cumprir com o
contrato de exportação com seus clientes.
O gerente executivo do Ibama no Pará, Marcílio Monteiro, foi obrigado pela
Justiça a fornecer as Autorizações para Transporte de Produtos Florestais
(ATPF’s), e encaminhou, através de ofício, ao diretor do Departamento de
Comércio Exterior, a comunicação da decisão judicial.
Em outro ofício, o gerente encaminhou ao diretor de Floresta do órgão, cópia
do relatório de vistoria realizado no pátio da empresa e solicitou
a emissão de licença Cites - Convenção sobre o Comércio Internacional das
Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção de um lote
parcial de 766,201 m³, e o pedido de anuência nos registros de exportação
pendentes de autorização junto à Decex.
Segundo o consultor da indústria, Waldemar Vieira Lopes, o processo foi
enviado para Brasília no dia último dia 29, tendo o diretor de Florestas do
Ibama, Antonio Carlos Hummel, negado a emissão do certificado Cites, não
autorizando a liberação do lote parcial junto ao Decex, o que tem causado um
enorme prejuízo à empresa, pela longa espera no decorrer do processo, com
elevados custos de armazenamento e conservação, explicou. O lote parcial
já se encontra no Porto de Belém aguardando a liberação para seu destino final. – A empresa arcará por acumular mais prejuízos
pelo custo de praças de navio contratadas e não utilizadas, além de ter de
pagar a armazenagem em zona portuária por tempo indeterminado, por omissão
do Ibama, disse o consultor da indústria.
O diretor do Ibama, em documento memorando, negou a liberação do lote
parcial, alegando que o referido lote fazia parte do PMFS - Projeto de
Manejo Florestal Sustentável que, por sua vez, não faz parte da ação
judicial movida pela empresa; além de concluir que o deferimento de
liberações dessa natureza seria uma medida irreversível e, portanto,
inadmissível, sustentou o diretor. O diretor de Florestas afirma que a
decisão do juiz federal é inadmissível. Segundo ele, essa atitude deve
criar problemas judiciais ao servidor do Ibama. – Pelo visto, o Ibama tem
tratado a liberação do Mogno, com dois pesos e duas medidas, destacou.
(Val-André Mutran/Diário do Pará)