Documentos comprometem defesa da Union Carbide no caso Bhopal
2004-12-08
Novas evidências poderão minar a estratégia da Union Carbide em sua negativa de responsabilidade por um dos piores acidentes industriais do mundo, ocorrida há 20 anos na cidade de Bophal, na Índia. A empresa norte-americana sempre alegou que a sua subsidiária indiana é a única responsável pelo projeto e a manufatura da unidade de Bophal, de onde um gás venenoso vazou em 03 de dezembro de 1984, matando milhares de pessoas. Mas documentos obtidos pelo jornal inglês The Independent mostram a estreiteza da relação entre a gigante norte-americana e sua encrencada unidade indiana de negócios. Um massivo vazamento de gás venenoso (isocianato de metila) registrado na fábrica de Bophal, matou pelo menos 7 mil pessoas instantaneamente, e contribuiu para a morte de mais de 20 mil. Os sobreviventes ainda buscam por justiça e compensações adequadas. Os documentos também mostram cortes de custos um ano antes do acidente fatal. Este corte de custos e de pessoal da Union Carbide, em Bophal, é citado como um dos fatores chave do acidente. A empresa norte-americana, Union Carbide Corporation (UCC), detinha 51% de participação em sua subsidiária indiana, a Union Carbide India Limited (UCIL). A UCC e seu
principal executivo na época do vazamento, Warren Anderson, nunca enfrentaram uma corte por homicídio na Índia. A UCC foi comprada pela Dow Química, outra gigante norte-americana, em 2001. Os documentos mostram que a UCC providenciou os processos básicos de design para a planta de Bophal, construída no final de 1970. O primeiro documento, um memorando da UCC, de 22 de setembro de 1975, é assinado pelo engenheiro Charles H. Becker e mostra um íntimo envolvimento da UCC na produção de equipamentos, no design e em serviços técnicos prestados à planta de Bophal. O documento mostra que a UCC esteve envolvida na busca de equipamentos seguros e controle de instrumentação, ambos fatores que falharam na noite de 02 de dezembro de 1984, quando água entrou em um tanque de armazenamento contendo a substância química volátil isocianato de metila, o que provocou o espalhamento de uma nuvem química ao redor das vizinhanças da Union Carbide. Em outra carta, secreta, o gerente sênior da Union Carbide indiana e o da mesma companhia com sede em Hong Kong, que supervisionava as operações do grupo na Ásia, discutiram vários problemas financeiros da unidade indiana, no início de 1984. (The Independent 06/12)