Rebanhos bovinos invadem as areias no Litoral Sul
2004-12-06
Por falta de alimentação, rebanhos bovinos têm invadido as praias do Litoral Sul em busca de pastagem. A presença inusitada preocupa os ambientalistas porque o gado arrasa a vegetação do cordão de dunas, responsável pela fixação da areia.
De acordo com o oceanólogo César Cordazzo, do Laboratório de Ecologia Vegetal Costeira da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), a pecuária é, historicamente, uma das principais fontes de renda de quem vive no litoral. Entretanto, décadas atrás o número de bovinos era pequeno, permitindo a recuperação gradativa das plantas.
- Hoje, o pastoreio sobre a vegetação das dunas é mais intenso porque parte das áreas utilizadas antes como pastagem agora é ocupada por plantações de pinus. O solo no local não tem grande disponibilidade de nutrientes, e a flora tem dificuldade de se recompor - diz o oceanólogo.
Amparado por legislação federal, o cordão de dunas é uma área de preservação permanente, e a vegetação serve de anteparo natural à areia, impedindo que ela invada campos e banhados, desequilibrando todo o ecossistema da região, com significativa redução na biodiversidade.
Segundo Cordazzo, é comum visualizar até 50 cabeças de gado em pequenos trajetos de 300 metros de praia. Por onde os rebanhos se deslocam, as plantas ficam destruídas, não só pelo consumo mas também com o pisoteio. Diferenciada por resistir à salinidade, às altas temperaturas e à falta de água, a flora das dunas responde pela presença de dezenas de animais próprios do ambiente como o Tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), um mamífero roedor típico das dunas gaúchas, além de dezenas répteis, anfíbios, duas espécies de aves marinhas --maçarico-de-colar e ostreiro - e centenas de insetos.
Há 13 anos responsável pelo Projeto de Recuperação e Fixação de Dunas da praia do Cassino, o Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema) também está em alerta. Conforme o oceanólogo Renato Carvalho, a atividade havia sido praticamente extinta nas proximidades do balneário devido ao rigor na fiscalização. Recentemente, entretanto, não é incomum ver cavalos e vacas pastando à beira-mar.
- Reduzir a quantidade de gado na praia é um trabalho árduo. Na maioria das vezes vemos somente os rebanhos e não os donos. Estamos planejando desenvolver um projeto de recuperação destes ambientes com o plantio de espécies, mas isso depende da conscientização dos pecuaristas - acrescenta Cordazzo. (ZH, 06/12)