Caracterização da vegetação natural em Ribeirão Preto, SP: bases para conservação
2004-12-06
Resumo: Buscando o estabelecimento de base concreta para conservação dos fragmentos florestais em Ribeirão Preto, SP, foi efetuado o diagnóstico da vegetação natural no município. Existem 102 remanescentes florestais, e em 99 deles foi efetuado levantamento florístico expedito. Foram encontradas 494 espécies arbóreas, pertencentes a 74 famílias botânicas, além de 31 espécies exóticas. Baseada na composição de espécies de cada fragmento, foi efetuada análise de correspondência retificada (DCA), utilizando a classe de solo onde situa-se o fragmento como variável categórica. Esta análise indica a existência de quatro grupos de vegetação: Mata Mesófila, Mata Decídua, Mata Paludícola e Cerrado, que ocorrem, respectivamente, em Latossolo Roxo, Litossolo, Solo Hidromórfico e Latossolo Vermelho Escuro ou Latossolo Vermelho Amarelo. Cada grupo apresenta composição florística própria e fisionomia típica.
A riqueza de espécies encontrada em cada fragmento variou de 13 a 134 espécies. Há um grande número de espécies com ocorrência rara – 275 espécies (52,38%) ocorrem em menos de 5% dos fragmentos, e nove espécies (1,71%) ocorrem em mais de 50% dos remanescentes. Há espécies com ocorrência rara em todos os fragmentos, mas elas tendem a ocorrer em maior número nos fragmentos maiores. Cada fragmento apresenta uma pequena porcentagem do total de espécies da formação, o que indica que, para conservar a diversidade de espécies, todos os fragmentos são importantes. Em geral, predominam nos fragmentos as espécies secundárias iniciais e zoocóricas, com uma tendência de aumentar a proporção de espécies pioneiras e anemocóricas com o aumento das perturbações antrópicas. A maioria dos fragmentos são pequenos e isolados. A análise do componente principal (PCA) mostrou que a área e a área core, fator de forma e dimensão fractal, e os índices de proximidade e similaridade são, respectivamente, os principais fatores atuantes nos três primeiros eixos.
A área e a área core apresentaram correlação significativa e positiva com a riqueza de espécies nas Matas Mesófilas e Decíduas. A forma e o isolamento não apresentaram correlação com a riqueza de espécies. Considerando fatores biológicos (riqueza de espécies e proporção de espécies com ocorrência rara) e abióticos (área do fragmento, proporção de área core e índice de similaridade), foi construído o Valor de Conservação (VC), que permite hierarquizar os fragmentos de acordo com sua importância para conservação. A análise conjunta do resultado deste índice e a distribuição espacial dos fragmentos indica que há duas situações que merecem atenção: 1) muitos fragmentos com elevado valor de conservação situam-se em área de expansão urbana e, portanto, expostos a maior pressão antrópica; 2) há uma concentração de fragmentos grandes e próximos entre si, que apresentam elevado VC, na região sul do município, ao longo do ribeirão da Onça, que incluem matas mesófilas, matas paludícolas e cerrado. Em ambos os casos, é sugerida a criação de Áreas de Proteção Ambiental (APA), para potencializar as ações de conservação destas áreas.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP).
Autor: Olga Kotchetkoff Henriques.
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