Desmatamento na Amazônia é muito maior do que anuncia governo Lula
2004-12-03
Os números do desmatamento da Amazônia no período agosto 2003-agosto 2004 divulgados pelo governo federal – entre 23.100 e 24.400 km2 – confirmam que é urgente que Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento entre em operação imediatamente, o que lamentavelmente ainda não ocorreu. Os números, com base na análise das áreas mais críticas da região e uma projeção para as demais, foram apresentados ontem (02/12) durante reunião em Brasília (DF). O ambicioso plano contra o desmatamento, lançado em março deste ano, contém uma série de medidas a serem implementadas por 13 ministérios, sob a coordenação da Casa Civil. Mas o desmatamento do período analisado pelo governo deve ser ainda maior.
Nova metodologia
Os dados do governo são baseados num novo sistema – o DETER (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), desenvolvido pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Tradicionalmente, o INPE calcula o desmatamento com base em outro sistema, o PRODES (Projeto de Estimativa de Desmatamento da Amazônia). No período agosto 2002-agosto 2003, a perda de cobertura florestal apontado pelo PRODES para a Amazônia foi de 23.750 km2, o segundo maior da história. — Os números do DETER, finalmente tornados públicos, são alarmantes. Mas ainda não refletem toda a extensão da tragédia. A área total destruída na Amazônia tende a ser ainda maior, disse o coordenador da campanha Amazônia, do Greenpeace, Paulo Adario. — Embora não se possa comparar os números do PRODES e do DETER, que usam bases de cálculo diferentes, nossas análises não deixam espaço para otimismo. Segundo o próprio INPE, o objetivo do DETER não é estimar a área total desmatada. O sistema foi concebido para emitir alertas que permitam ao governo agir rapidamente.
Cortes invisíveis
— O DETER usa imagens dos satélites Terra e Acqua, com resolução espacial de 250 x 250 metros – ou seja, detecta desmatamentos de no mínimo 25 hectares, explica Adario. — Já o PRODES utiliza imagens dos satélites Landsat e CBERS, que permitem detectar desmatamentos em áreas muito menores, de 6,4 hectares. Somando os milhares de desmatamentos provocados por pequenos fazendeiros e posseiros, podemos ter um incremento de até 20%. Não custa lembrar que, há alguns dias, a imprensa divulgou que o desmatamento total na Amazônia pode chegar a 30 mil km2. Pelo plano de combate ao desmatamento, os dados do DETER, que só a partir de hoje estão disponíveis ao público, permitiriam que os diversos órgãos do governo agissem de forma rápida e coordenada para barrar a destruição na origem. A sociedade teria participação ativa no monitoramento e acompanhamento das medidas. — Infelizmente, isso não ocorreu a tempo. Observamos intensa atividade na floresta no segundo semestre desse ano, que não estão computadas nos dados divulgados ontem. Essa atividade atesta que destruição da Amazônia continua caminhando a passos largos, disse Adario. No último dia 29, a organização ambientalista fez uma avaliação extremamente crítica do plano de combate ao desmatamento e culpou a falta de ação efetiva do governo Lula para implementar a proposta. (Greenpeace)