Contaminação por mercúrio: Amazônia recebeu três mil toneladas em 20 anos
2004-12-03
Por Claudia Viegas
O mercúrio é um metal pesado que ocorre ao natural no meio ambiente. Seu uso técnico mais comum é na amalgamação de ouro e na indústria, para a fabricação de cloro, soda, lâmpadas fluorescentes e termômetros. O uso indiscriminado deste metal, no entanto, preocupa principalmente os países pobres economicamente falando, mas ricos em recursos naturais, como o Brasil. Hoje, o mercúrio é um dos mais graves problemas para o meio ambiente e para a saúde humana, especialmente na bacia Amazônica, pois ela recebe águas dos demais países, o que significa que pode estar recebendo contaminantes de outras regiões. O Brasil é parte interessada inclusive na evolução das discussões internacionais sobre mercúrio, desenvolvidas pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), com o objetivo de contribuir para as discussões e o encaminhamento de medidas que permitam um controle global do mercúrio e uma maior cooperação entre os países.
Controle da contaminação
Para estudar soluções conjuntas para a questão, o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria Permanente da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), estão promovendo, até hoje (03/12), no Rio de Janeiro, a 1ª Reunião para a Cooperação Regional sobre Contaminação de Mercúrio na Bacia Amazônica. O evento realiza-se no Hotel Ceasar Park e tem apoio do Programa Regional de Meio Ambiente dos Estados Unidos. O principal objetivo da reunião é conhecer o problema da contaminação por mercúrio nos países membros da OTCA. Estão sendo relatadas, ainda, as medidas adotadas para mitigação dos impactos ambientais e as tecnologias e experiências existentes para essas ações. Outro item da pauta do encontro é a elaboração de estratégias de cooperação para que sejam implementados programas de controle da contaminação por mercúrio na Bacia Amazônica, onde o mercúrio é utilizado em garimpos, de forma indiscriminada e sem critérios técnicos, contaminando rios e solos.
Três mil toneladas
O mercúrio pode contaminar o homem de duas formas: a primeira é pelo contato direto na exploração de minérios e na indústria. O garimpo do ouro é uma das atividades que mais expõem o trabalhador, pois o mercúrio (Hg) é inalado quando ocorre a queima da amálgama (separação entre o ouro e o metal). A segunda forma é a contaminação ambiental, provocada pela alimentação, mais freqüentemente pela ingestão de peixes de água doce e salgada e que afeta diretamente a corrente sangüínea, causando problemas no sistema nervoso central. Segundo o Instituto de Química da Universidade de Brasília, que monitora os níveis de mercúrio na água, terra, atmosfera e alimentos nas populações ribeirinhas da Amazônia, cerca de três mil toneladas de mercúrio utilizados em garimpo na Amazônia nos últimos 20 anos foram despejados diretamente no meio ambiente. Os estudos apontam que os teores de mercúrio na população da região chegam a ser cinco vezes maiores que o normal. Um dos efeitos da contaminação por mercúrio é sobre o sistema nervoso humano.