Documentário brasileiro flagra ação de traficantes de animais ameaçados de extinção
2004-12-02
O Bicho Dá, o Bicho Toma, um documentário sobre tráfico de animais silvestres no Brasil, com lançamento previsto para fevereiro, promete chamar a atenção para o terceiro maior comércio ilícito no mundo. As câmeras flagraram imagens das rotas de exportação da fauna brasileira, incluindo confissões de traficantes. As cenas escancaram a forma cruel como os bichos são transportados e os maus-tratos que sofrem nas beiras de rodovias. Espécies mais raras, como as de algumas araras, chegam a valer US$ 60 mil. Os exemplares são dopados com remédios e viajam em vôos de luxo para fora do país, empobrecendo os ambientes naturais onde deveriam viver em liberdade.
Feito pela Guapuruvu Filmes e co-produzido pela Renctas, principal ONG do país dedicada a coibir esse tipo de atividade, o documentário consumiu três anos de pesquisas e seis meses de filmagens, realizadas em Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Pará, Amazonas e Rio de Janeiro. Segundo Tânia Leite, diretora de produção do filme, os depoimentos devem gerar denúncias no Ministério Público e dar origem a operações da Polícia Federal. Talvez se consiga, pela primeira vez no país, colocar atrás das grades peixes graúdos do tráfico. – Até hoje ainda não se pegou, no Brasil, nenhum traficante de peso, afirma o tenente-coronel Antônio Carlos Azevedo, do Batalhão Florestal do Pará.
A equipe de filmagens passou por situações bastante tensas, como quando foi expulsa de uma feira de animais em Belém pelos comerciantes e traficantes de bichos. O documentário mostra pela primeira vez a cara dos principais contrabandistas de animais do país. Um deles, Carlinhos das Araras, de Pernambuco, que foi preso em 1993 por tráfico de pássaros para Salvador, hoje se diz proprietário de um negócio legal de criação de avestruz. Outro entrevistado, Joselito dos Santos, da Bahia, tem cinco processos por tráfico de bichos. – Descobri em 1994 que as araras eram uma mercadoria que dava muito dinheiro, conta, explicando por que começou a vendê-las ilegalmente. – Essas araras que eu vendia nunca ficavam no Brasil, iam todas para fora, lembra. Joselito mostrou à equipe de filmagem como é feita a captura das aves e quais as técnicas utilizadas para transportar e vender os animais. (Época - Gabriela Michelotti, 29/11)