Satélites do INPE indicam que desmatamento de 2004 será recorde
2004-11-30
Estima-se que 2004 fechará com 30 mil quilômetros quadrados de desmatamento. São 7 mil a mais do que a média já insensata que o país vinha mantendo desde a virada do milênio. E um salto de cinco mil quilômetros quadrados sobre o índice escabroso de 1995, que até agora marcou na região o maior estrago de todos os tempos.
Quem avisa é o Modis, o conjunto de sensores orbitais que passou este ano a alimentar para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) o Sistema de Detecção de Desmatamento, um banco de informações em tempo real que o governo chama de Deter. O satélite deveria avisar o Ibama cada vez que flagrasse na Amazônia um sinal suspeito de incêndio ou desmatamento. Mas, na prática, o que ele conseguiu nesta primeira temporada foi fazer 2004 fechar mais cedo.
Os dados oficiais, tirados do Landsat, só entrarão nas estatísticas lá para abril do ano que vem. Mas os dados do Modis começaram a chegar em Brasília esta semana. No dia 1 de dezembro têm visita marcada na Casa Civil. Os dados mostram que o desflorestamento, além de ultrapassar todas as expectativas, avançou muito no eixo da BR-163, que o Ministério do Meio Ambiente apelidou de Estrada Verde. Antes do asfalto e dos programas de desenvolvimento sustentável, os incêndios passaram a acelerar como nunca na Cuiabá-Santarém. Dois anos atrás, a rodovia mal entrava no mapa de áreas críticas para o ambientalismo brasileiro.
Outra notícia ruim vem da Terra do Meio, o coração das florestas ainda preservadas do Pará, onde o governo ensaiava há vários meses um programa de vigilância ambiental e regularização fundiária. Paradoxalmente, foi bem ali que os focos de calor se mulplicaram, salpicando a floresta com manchas vermelhas à primeira vista desconexas, cujo desenho só se torna compreensível para quem é capaz de ligar no mapa os pontos esparsos com a rede de estradas clandestinas que costuram por dentro a Terra do Meio.
Por enquanto, são queimadas esparsas no meio da selva, às vezes em terras indígenas. Do alto, não passam de roçados quase insignificantes, retalhos de trinta metros por trinta, perdidos na imensidão da floresta amazônica. Mas, de perto, quase sempre querem dizer que entre as árvores alguém começou a preparar, na seca de 2004, os incêndios de 2005. É assim que as grandes derrubadas começam. (O ECO 25/11)