Hidrovia Tocantins-Araguaia: importância e impactos econômicos, sociais e ambientais segundo a percepção dos agentes econômicos locais
2004-11-30
Resumo: O presente estudo avalia a percepção de potenciais usuários da Hidrovia Tocantins-Araguaia sobre seus possíveis impactos econômicos, sociais e ambientais em 7 municípios, no Estado do Tocantins. Foram entrevistados 24 indivíduos representantes do poder público, da iniciativa privada, de entidades de classe e de organizações não-governamentais ambientalistas. Como evidência de campo, verificou-se que, no rio Araguaia, a limitada infra-estrutura operacional, instalada em 1998, está completamente deteriorada e que as embarcações estão sem uso desde 2000. No rio Tocantins, verificou-se a inexistência de eclusas que permitam vencer os desníveis naturais mais agressivos, aumentando a navegabilidade e possibilitando o tráfego dos comboios. Diante disso, pode-se afirmar que a Hidrovia ainda está longe de se consolidar como um modal de transporte alternativo para o Estado.
Quanto à opinião dos entrevistados, de modo geral, consideram interessante, oportuna e estratégica a presença da Hidrovia Tocantins-Araguaia em seus municípios, principalmente para o transporte de insumos e produtos. A despeito da pouca informação de que dispunham sobre sua dimensão, potencial e impactos, manifestaram expectativas positivas quanto aos aspectos econômicos e sociais e negativas quanto aos ambientais. Vários assinalaram que o lento processo de implantação compromete sua inserção nos projetos institucionais ou empresariais e causa descrença sobre sua consolidação. A análise estatística dos dados de campo, realizada através de uma regressão do tipo stepwise, revela que os agentes econômicos relacionam a importância da Hidrovia Tocantins-Araguaia para seus municípios aos impactos econômicos, sociais e ambientais que ela possa causar. Os resultados individuais mostraram-se significativos, segundo o nível de probabilidade p, para as variáveis selecionadas pelo modelo, sob a = 0,20(erro tipo I) estabelecido à priori. Foram significativos e positivos os coeficientes das variáveis geração de emprego e renda, oferta de serviços estruturais municipais e valor das propriedades ribeirinhas e, negativos, os coeficientes das variáveis conhecimento e informação sobre a hidrovia, atividades de indústria e comércio, atividades de turismo e oferta de serviços sociais municipais.
A variável atividades de agricultura não foi significativa. O grupo focal, realizado com a finalidade de ampliar a discussão qualitativa sobre a Hidrovia Tocantins-Araguaia, foi consensual em relação aos benefícios econômicos e sociais proporcionados ao Estado do Tocantins e aos circunvizinhos. Porém, alertou sobre os possíveis impactos negativos no meio ambiente, especialmente no Rio Araguaia. Em linhas gerais, o estudo permitiu concluir pela necessidade e benefícios de serem consideradas as impressões qualitativas dos potenciais usuários na avaliação de viabilidade econômica de projetos de infra-estrutura de transporte. Tais impressões serviriam como parâmetros de ponderação dos aspectos quantitativos levantados pelo empreendedor, favorecendo a escolha do empreendimento mais adequado sob o ponto de vista econômico, social e ambiental. Sobre a implantação efetiva da Hidrovia Tocantins-Araguaia, no Estado do Tocantins, alerta-se para os impactos que ela possa causar. Ainda que sob o ponto de vista comum sejam esperados benefícios econômicos e sociais, sob o ponto de vista ambiental a sensação é de perda de qualidade.
O Rio Araguaia, pela sua juventude e fragilidade dos ecossistemas que congrega,exige tratamento especial, baseado num cuidadoso plano de intervenções, que respeite suas características naturais, bem como as das espécies e populações que o habitam, inclusive a humana. O Rio Tocantins, ainda que menos indefeso pela sua maior idade, precisa de tratamento adequado, uma vez que dele depende não só a Hidrovia Tocantins e o projeto multimodal de transporte mas,também, todo o projeto de geração de energia hidrelétrica do Estado.
Instituição: Universidade de São Paulo (USP).
Autor: Alivinio de Almeida.,br>
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