Desgaste em catalisadores pode afetar meio ambiente no futuro
2004-11-29
A presença de elementos ligados ao grupo da platina (platina, paládio e ródio) no solo às margens da Rodovia dos Bandeirantes - que liga a Capital ao interior do estado de São Paulo - pode afetar outros locais, como, por exemplo, as plantações ao longo da rodovia. — Identificamos um valor acima do considerado natural, o que caracteriza os catalisadores automotivos como fonte destes elementos, já que estes são empregados em sua composição, explica a pesquisadora Cláudia Petronilho Morcelli, autora de tese sobre o tema, orientada pela professora Ana Maria Graciano Figueiredo, do Centro do Reator de Pesquisas (CRPq) do Ipen.
Cláudia explica que, na forma em que são emitidos, os elementos são inertes (não reagem), mas compostos como a hexacloroplatina e complexos de tetracloroplatina, além do paládio, são potenciais causadores de alergia. — Estudos feitos em ratos apontam maior incidência de tumores na presença de alguns compostos de paládio e ródio no organismo, diz. No estudo, foram considerados tanto os aspectos físicos do local - como o sentido preferencial dos ventos, que favorece o deslocamento de partículas - quanto os comportamentais. — Analisamos lugares com diferentes estilos de direção, como trechos de pedágios, onde as pessoas diminuem a velocidade e depois aceleram, além de locais onde há tráfego intenso e outros onde o trânsito flui melhor, relata Ana Maria.
— Os elementos do grupo da platina, presentes nos conversores catalíticos, têm a função de transformar, por meio de reações, os gases formados pela queima do combustível em gases menos nocivos à saúde. Porém, com o uso, há um desgaste na estrutura dos catalisadores, que varia de acordo com sua idade (a média de vida útil é de 80.000 km rodados) e com o estilo de dirigir do motorista explica Claudia Morcelli. Emitidos tanto na forma de metal puro quanto em óxidos, estes elementos vão se acumulando no solo adjacente a rodovia. —É importante saber por quais transformações químicas o paládio, a platina e o ródio vão passar. A forma química final destes elementos, a sua transformação no meio ambiente e a repercussão nos organismos vivos é de grande interesse e ainda pouco conhecida, alerta Cláudia.
Projeção para o futuro
De acordo com Ana Maria Graciano, a quantidade verificada na Rodovia dos Bandeirantes ainda é muito pequena. — Mesmo encontrando concentrações acima das naturais, esta quantidade ainda é baixa. Os valores mais altos que captamos são de 60 partículas por bilhão (p.p.b.), enquanto os valores naturais estão na faixa de 0,04 p.p.b, acrescenta a pesquisadora.
Os dados foram obtidos graças a uma técnica denominada Espectrometria de Massa com Fonte de Plasma Induzido, utilizada em centros de pesquisa do Ipen, que apresenta como vantagem um elevadíssimo grau de sensibilidade de captação dos elementos (que chega a uma partícula por quatrilhão), além do curto tempo de análise.
A importância da pesquisa, já realizada há anos em diversos países da Europa, nos EUA e no México, está em projetar um futuro impacto ambiental que o acúmulo destes elementos ao longo dos anos pode causar. — Devemos conscientizar principalmente os fabricantes, que poderiam buscar outras tecnologias ou aperfeiçoar esta atualmente utilizada, já que a importância dos catalisadores automotivos é indiscutível, recomenda Claudia, lembrando que os elementos do grupo da platina são considerados metais nobres, de alto valor agregado, o que pode representar também um possível impacto econômico.