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2004-11-26
Enquanto os índios da tribo caingangue seguem acampados na entrada do Parque Natural do Morro do Osso, na zona sul de Porto Alegre, muitos se esforçam para tirá-los de lá. São moradores do bairro nobre Sétimo Céu, ambientalistas, defensores do parque, o vereador Beto Moesch e a Smam. Exceto a Funai, a Comissão de Justiça e Direitos Humanos e alguns antropólogos, são todos contra a permanência da tribo porque o local seria de preservação ambiental, e por isso não apropriado para permanência humana. Na Audiência Pública que aconteceu na Câmara dos Vereadores na terça-feira (23/11), promovida pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam), ficou evidente que a situação continuará complicada e sem resolução, já que na justiça, os índios estão protegidos por uma ação movida pela Comissão de Justiça e Direitos Humanos.

Desabafo indígena
A presidente da Associação dos Moradores da Vila 7° Céu, Terezinha Alves, moradora do local, diz que como assistente social, sempre defendeu a causa dos pobres e excluídos, mas que agora quando vê sua comunidade invadida pelos caingangues, sente-se confusa. — Temos sido muito pacientes com eles. Mas quem mora na rua Padre Werner está sentindo-se incomodado com a situação. É ruim vê-los ali e não entender nem o porquê. Mas o outro lado da questao também faz sentido. — A realidade é que querem correr os índios de lá para continuar construindo e vendendo as terras para as empreiteiras. A área de preservação é todo o morro e não só os 27 hectares, rebate Vicente Mendes Castolgo, homem branco casado há 20 anos com uma caingangue. Ele conta ainda que os moradores reclamam da falta de segurança, por isso não freqüentam o local. Com a entrada dos índios, não há mais gente invadindo lá para pichar, queimar ou devastar. Segundo Vicente, a idéia inicial dos índios aos se instalar no parque era de promover atividades culturais de dança, rituais de religião, culinária, oficinas de artesanto em parceria com a prefeitura, Smam, Ibama e com os moradores. — Mas a Smam não quis saber do assunto. Para eles, é inviável nossa permanência em local público e ponto final. Não quiseram negociar.

Terra como moeda
Segundo o Cacique dos Caingangues, Jaime Alves, a invasão do Morro do Osso é uma ação para chamar atenção sobre a marginalização do índio na sociedade. — São 504 anos de repressão, onde o índio foi tirado de seu habitat natural pelo homem branco, e agora tem de mendigar espaço para viver do jeito que gostaria . E completa: — Enquanto ficamos calados, nunca vai aparecer justiça. Não queremos destruir a natureza, nem roubar o espaço de niguém. Só queremos ficar com o que é nosso e ser respeitados como parte da socidade. Os índios estão acampados no local desde o início de abril. O vereador Beto Moesch, integrante da Cosmam questionou o cacique sobre como seria possível sustentar as mais de 30 famílias que estão morando no Morro, já que o solo é pobre e rochoso e não oferece estrutura para agricultura. O cacique informou que seu objetivo não é de explorar o solo local, mas sim morar no parque e continuar fazendo artesanto com o material trazido de outras partes da cidade. O cacique entende que cada um tem seu direito de reivindicar o dieito às terras, mas é irredutível quando se fala nas casas que estão construídas ao redor do parque e sobre o loteamento de terrenos para construção de codomínios. — O índio não vê a terra como moeda.

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