Falar em desenvolvimento sustentável virou moda, afirma pesquisadora
2004-11-26
As práticas sustentáveis no extrativismo e na agricultura fizeram parte dos temas discutidos no segundo dia (24/11) do V Seminário Internacional e VI Estadual sobre Agroecologia, em Porto Alegre. A pesquisadora da Fundação Universidade de Tocantins Maria Regina Teixeira da Rocha e o agricultor ecológico mexicano Ezequiel Macías Uchoa, relataram suas experiências com relação à utilização dos recursos naturais.
Eliminação dos passivos
Segundo Maria Regina, que apresentou o painel Agroextrativismo e Sustentabilidade – uma reflexão sobre práticas e saberes locais, as populações tradicionais do Norte do país, como Piauí, Maranhão, Pará e Tocantins, têm muito a ensinar sobre a postura sustentável e não-agressiva que adotam em relação ao meio ambiente. A expressão desenvolvimento sustentável, tão utilizada atualmente, tem sido empregada de maneira irresponsável de acordo com a pesquisadora: — Falar em desenvolvimento sustentável virou moda, criticou. O agroextrativismo, uma prática das populações tradicionas, se baseia na eliminação do fogo, de agrotóxicos, das máquinas pesadas e dos adubos químicos no processo de cultivo e extração.
Conhecimento acumulado
Através da realização de trabalhos de campo, a pesquisadora pôde constatar que esses povos tradicionais vêem os recursos naturais como uma dádiva divina, diferentemente da visão de mercado que predomina hoje: — Eles têm uma noção de uso comum dos recursos naturais, salientou. A pergunta que ficou para o público que assistiu à palestra foi: — O que está sendo feito com o conhecimento acumulado ao longo de tantos anos por esses povos? — O que os teóricos, os acadêmicos sabem sobre essas práticas?, indagou Maria Regina.
Tecnologias desavançadas
O mexicano Ezequiel Macías Uchoa apresentou a sua experiência com a agricultura ecológica em Jalisco, onde vive. Ele possui uma pequena propriedade rural onde cultiva milho, feijão, moranga, plantas medicinais, hortaliças, entre outros. Depois de ter utilizado a agricultura química por vários anos, os danos ambientais aliados à necessidade de produzir alimentos mais saudáveis fizeram com que Uchoa decidisse recorrer à agroecologia: — Nós estamos vivendo agora, em Jalisco, uma nova forma de alimentação. As chamadas tecnologias avançadas, de avançadas não têm nada, porque destroem a natureza, afirmou.