Ligações entre mar e lagoa no RJ podem afetar biodiversidade
2004-11-23
Um relatório divulgado na semana passada pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), com base em estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), conclui que uma obra que pretende refazer as ligações entre mar e lagoa, no Rio de Janeiro, poderá causar danos irreparáveis ao meio ambiente, prejudicando a biodiversidade do local. A obra propõe a abertura para o mar do Canal da Sernambetiba e sua ligação com os canais do Portelo, Cortado e das Tachas. Essas ligações deixaram de existir com o tempo, devido ao assoreamento no local. O documento já está nas mãos do Ministério Público Federal e sugere o embargo do empreendimento, orçado em R$ 27 milhões. O projeto é da Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla) e foi desenvolvido pelo Departamento de Engenharia Oceânica da Fundação Alberto Luiz Coimbra de Pesquisa em Engenharia (Coppe) da UFRJ. Conforme o relatório do Crea-RJ, a obra vai aumentar a velocidade da água. Hoje, nos canais do Cortado e Portela, por exemplo, a velocidade é inferior a 1 centímetro por segundo. Com a nova fonte de oxigenação, a previsão é que a velocidade passe a ser de 20 centímetros por segundo. São justamente os efeitos que serão causados com este aumento na intensidade da troca hídrica entre mar e lagoa que estão sendo questionados pelo estudo da Uerj. O temor é que o aumento de salinidade, causado pela abertura do canal para o mar, provoque desequilíbrio, eliminando espécies da fauna e flora, além de poluir a praia do Recreio. Para o engenheiro Reynaldo Barros, presidente do Crea-RJ, os danos serão irreparáveis, podendo acabar com a biodiversidade no local. Isso porque as lagoas da região são de água salobra e essa ligação com o mar provocará uma salinidade que a flora e fauna locais não terão condições de suportar. Ele acrescenta que uma obra desta magnitude é bastante complexa e exige um prévio monitoramento ambiental. Barros destaca que há opções mais eficientes e bem mais baratas, como, por exemplo, a construção de uma rede coletora interceptadora de esgoto emergencial. Pelo projeto da Serla, o lodo, que provavelmente será revolto, pode ir direto para as praias.