Do Alasca ao Himalaia, alterações climáticas são cada vez mais evidentes
2004-11-22
E. San Martin (Nova York)
Do Alasca ao Himalaia montanhas glaciais estão derretendo cada vez mais rapidamente, colocando em risco a fauna das regiões montanhosas do mundo, além de grandes patrimônios ambientais da humanidade, como os picos de Kilimanjaro e do Everest. Os campos de gelo do Alaska estão se tornando banhados, ameaçando a sobrevivência do Urso Polar. Há três anos, as geleiras oceânicas do mar Ártico derretem 12% acima do normal no verão. Na Flórida, o inverno termina duas semanas antes do normal. Estas são apenas algumas das constatações científicas sobre os efeitos do aquecimento global na pauta do Conselho Ártico, que reúne no próximo dia 24 na Islândia para debater medidas para contenção de alterações climáticas do planeta.
Alerta da Unesco
De acordo com o Centre for Mountain Studies, o aquecimento global e a poluição do ar representam uma ameaça não apenas para populações rurais, mas também para cidades grandes. Um estudo encomendado pelo grupo Friends of the Earth constatou que o degelo de montanhas glaciais já afeta o ambiente na região das montanhas do Himalaia e cercanias do monte Everest. A diminuição destas geleiras vem sendo observada por alpinistas, comunidades de zonas montanhosas e cientistas. Além de reduzir as reservas de água destas regiões, ameaça seu modo de vida, provocando enchentes e inutilizando plantações. Na quarta-feira passada (17/11), o Friends of the Earth encaminhou à UNESCO, em Paris, um pedido para que o Parque Nacional do Everest, no Nepal, entre para a lista de Patrimônios da Humanidade ameaçados. De acordo com a portavoz Catherine Pearce, esta é a primeira vez que a UNESCO considerará a proteção de um patrimônio da humanidade ameaçado por alteração climática.
Risco Global
— A principal causa do problema é a emissão de gases causadores do efeito estufa por países industrializados, acrescenta Pearce, destacando que há regiões semelhantes ameaçadas em todo mundo, das montanhas na África Central à cordilheira dos Andes no Peru, na América do Sul. Outros estudos mostram que a montanha mais alta da África, a de Kilimanjaro, na Tanzânia, poderá perder seu pico de gelo em cerca de 15 anos. Em 25 anos, o mesmo poderá acontecer nas montanhas do Glacial National Park, no extremo norte dos Estados Unidos. — Está comprovado que elas estão diminuindo rapidamente. Existiriam mais de 700 áreas no planeta exigindo medidas corretivas, de acordo com um portavoz da organização londrina Climate Justice Program, que acrescentou: — a comissão de patrimônio histórico mundial precisa investigar estas regiões com urgência, para garantir a segurança das populações locais e preservar alguns dos cenários naturais mais belos do mundo.
Reações ambientais
Outra ameaça que o aquecimento global representa é relativa às reservas aquíferas do planeta. O Centre of Mountain Studies indica que as zonas montanhosas representam 25% da superfície da terra, sendo que 75% da água mundial é preservada em torres e campos de gelo. Em países áridos, isto chega a representar até 95% das reservas. A própria Alemanha tem 40% de sua água congelada. Um terceiro estudo sobre alterações climáticas nos Estados Unidos, lançado pelo conceituado Pew Center of Global Climate Change indica que a temperatura da América do Norte deverá subir de quatro a sete graus Fahrenheit no século XXI, já tendo registrado o aquecimento de um grau desde 1900. Na região do Alaska, no último verão, a capa de gelo está se tornando mole no verão, destruindo árvores e ameaçando a sobrevivência do urso polar. No extremo sul dos EUA, em 50 anos, o inverno teria diminuído. Na Flórida, a primavera chega duas semanas antes. Para Camile Parmesan, uma das autoras do estudo Observed Impacts of Global Climate Change in the U.S., nenhuma de suas observações vai supreender os leigos. — Mas as reações ambientais à alteração climática são evidentes em todo EUA. Seu efeito cumulativo ficará evidente nas próximas décadas, garante ela.
Fenômeno irreversível
Os sinais mais notórios, por outro lado, surgiram em outro estudo lançado semana passada pelo Conselho Ártico, uma comissão integrada por oito países, grupos indígenas e um coletivo internacional de 300 cientistas. O estudo estima que houve um aumento de concentração de dióxido de carbono na atmosfera de 280 por milhão para 380 por milhão desde 1800. Os cientistas indicam que a região do Ártico, no Polo Norte, é a primeira a sofrer com a alteração climática. O fenômeno, entretanto, teria se acelerado nos últimos tempos, pois há três anos, o gelo do mar vem derretendo 12% acima do normal. Alguns especialistas chegam a considerar que o gelo ocenânico estaria quase em processo irreversível de recuperação.