Degelo do Ártico abrirá áreas à exploração de gás e petróleo
2004-11-12
O rápido degelo do Ártico pode abrir vastas áreas para a exploração de petróleo e gás, mas isso afetaria o frágil equilíbrio ambiental da região, disseram especialistas na quinta-feira (11/11). Os cientistas elaboraram um relatório patrocinado por oito países, segundo o qual o oceano Ártico pode praticamente desaparecer no verão em 2100 por causa do aquecimento global. Eles afirmaram que isso facilitaria as operações de busca por petróleo e gás natural, mas o degelo do permafrost (solo congelado) poderia desestabilizar as instalações em terra. As empresas petrolíferas não se convenceram. — Não podemos dizer com certeza se as operações no Ártico ficarão mais fáceis ou mais difíceis, disse Mark Akhurst, gerente de alteração climática da BP, que participava com observador da conferência em Reykjavik que analisa o relatório divulgado segunda-feira. — Uma das grandes questões são... os pedaços de gelo flutuando, disse ele. — Se o aquecimento criar áreas onde o gelo seja bem menos estável, é muito mais difícil executar. Já se extraem petróleo e gás natural do Ártico, do Alasca à Noruega. Os novos grandes projetos incluem a reserva de gás natural Shtokman, da Rússia, no mar de Barents, com uma capacidade estimada de 3,3 trilhões de metros cúbicos de gás, ou seja, uma das maiores do mundo. — Conforme o gelo recua, recursos como petróleo e gás ficarão em geral mais fáceis de alcançar, disse Arne Instanes, um cientista norueguês que foi autor do capítulo sobre a infra-estrutura da região no relatório. Muitos ambientalistas são contrários à exploração de novos combustíveis fósseis no Ártico, para não aumentar ainda mais o efeito-estufa. — Precisamos de um novo tratado do Ártico para regulamentar o acesso à região, disse Samantha Smith, chefe do Programa do Ártico do grupo conservacionista WWF. O ecossistema do Alasca ainda não se recuperou do vazamento do Exxon Valdez, em 1989. Mas, segundo Akhurst, a demanda por energia do planeta vai dobrar ou triplicar até 2050, e o uso maior de gás natural em vez do petróleo ou do carvão poderia conter as emissões de dióxido de carbono. E, mesmo com o barril de petróleo a 50 dólares, as reservas do Ártico podem se provar caras demais. O relatório sobre o Ártico foi elaborado por 250 cientistas dos Estados Unidos, Rússia, Canadá, Noruega, Finlândia, Suécia, Dinamarca e Islândia. Segundo o estudo, as temperaturas no Ártico estão se elevando ao dobro da velocidade do resto do planeta, e devem subir mais entre 4 e 7 graus Celsius até 2100. — Há quem estime que 25% das reservas de petróleo e gás do mundo estejam no Ártico, disse Lars-Otto Reiersen, chefe do Programa de Monitoramento e Avaliação do Ártico (Amap). Segundo ele, se houver um vazamento, é mais difícil remover o petróleo do gelo. — Se vazar no gelo, o óleo vai ficar congelado, e quando o gelo derreter ele vai degelar também, afirmou. Outros perigos apontados foram a erosão da costa e a dificuldade de transporte. (Reuters 11/11)