Europa não é modelo de uso racional de água, diz Mário Soares
2004-11-11
O II Fórum Internacional das Águas, que está sendo realizado em Porto Alegre desde o dia 9 de novembro, trouxe ao Estado um dos nomes internacionais mais atuantes na busca pela preservação dos recursos hídricos do planeta. Mário Soares, que além de ex-presidente de Portugal é presidente do Comitê Internacional para o Contrato Mundial da Água, conversou com a imprensa antes de proferir a palestra Gestão Sustentável das Águas, no primeiro dia do evento.
O Comitê Internacional para o Contrato Mundial da Água é uma organização idealizada pelo economista e professor Riccardo Petrella e que conta com personalidades de vários países. Tem por objetivo sensibilizar a opinião pública mundial sobre a importância da água: – A água tem que ser considerada um direito humano, diz Soares, que afirmou também que a gestão da água não pode ser coordenada por grandes companhias multinacionais. Apoiar e organizar reuniões de discussão em escolas e universidades sobre a importância de não haver desperdício de água é uma das formas de atuação do Comitê, que pretende tornar realidade a criação de um observatório internacional sobre as águas.
Exemplo africano e europeu
Mário Soares citou a África, como uma das regiões do planeta que mais está sofrendo com a falta de água hoje. — Há milhões de pessoas no mundo que não tem torneira para ligar. A água é um bem escasso que deve ser cuidado, salientou. Questionado sobre a situação da Europa nesse contexto, Soares não poupou críticas: — A Europa não é nenhum modelo. Existe muito desperdício de água, as pessoas gastam mais do que precisam. Sobre a poluição estar tomando conta também dos oceanos, a opinião de Soares confirma o que apontou o relatório da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), publicado no mês de setembro. O documento, intitulado O Estado Real das Águas no Brasil 2003-2004, mostra que os despejos de esgoto na região costeira do país representava há 10 anos a poluição de cinco quilômetros da costa e hoje a extensão desses resíduos já chega a até 50 quilômetros. Mário Soares observou que há pouco se acreditava que a higienização dos oceanos acontecia de forma automática, porém, agora já é possível constatar que isso não é verdade: – Hoje já existem oceanos mortos, afirmou. Como alerta para os brasileiros, Mário Soares disse que a situação de abundância de água que vive o Brasil hoje pode não durar para sempre, por isso a importância da realização de um Fórum como o que está acontecendo em Porto Alegre, a partir do qual surgem propostas interessantes para que o problema possa ser solucionado antes que seja tarde.