Questão nuclear entrava laço entre EUA e Brasil
2004-11-05
O governo brasileiro pode se preparar para dois tipos de dificuldades no relacionamento com os Estados Unidos agora que George Walker Bush ganhou um mandato sem qualquer sombra de ilegitimidade. Um problema, o principal, será no campo nuclear. No primeiro debate da campanha presidencial, tanto Bush como John Kerry responderam proliferação nuclear quando perguntados sobre qual era a maior ameaça isoladamente à segurança nacional dos EUA. Logo, é razoável supor que o foco estará centrado nesse tema em que o Brasil entra como vítima por tabela. Não há, no Departamento de Estado, suspeitas de que o programa nuclear brasileiro tenha fins bélicos. Mas há, sim, o desejo de evitar que o veto brasileiro a inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica nas instalações da usina de Resende seja visto como estímulo a países (Irã e Coréia do Norte, especificamente) sobre os quais pesam de fato suspeitas.
É sintomático e uma espécie de aviso prévio que dois dos mais importantes jornais norte-americanos tenham tratado recentemente do tema nuclear: o New York Times, em reportagem de seu correspondente Larry Rother, e, ontem, o Miami Herald. O segundo tema de conflito são as regras sobre propriedade intelectual. O Brasil, com Argentina e Bolívia, propôs, na Organização Mundial de Propriedade Intelectual, que as novas regras que estão em debate incorporem uma agenda do desenvolvimento.
Na prática, significa menos rigidez no respeito às patentes, para que países como o Brasil possam adotar políticas industriais, tecnológicas ou de saúde. — É mistificação, reagiu Peter Allgeier, em recente visita ao Brasil. Ele é o segundo homem do USTr, o organismo que faz às vezes de ministério de comércio exterior nos EUA. (FSP, 04/11)