Estudo mostra como insetos e vermes podem ser vetores de epidemias
2004-11-03
Os cientistas estão cada vez mais certos. Os insetos e os vermes não apenas carregam bactérias patogênicas para o ser humano no interior de seus organismos. Esses invertebrados também funcionam como catalisadores de várias pragas, inclusive algumas que mataram milhões de pessoas nos séculos 14 e 17. Um estudo realizado na Universidade de Bath, no Reino Unido, e publicado na edição de outubro da Nature Reviews Microbiology, investigou a bactéria bioluminescente Photorhabdus asymbiotica, que provoca feridas purulentas em seres humanos com baixa resistência. A suspeita de que a nova bactéria P. luminescens - usada atualmente como princípio biológico de um poderoso inseticida para combater pragas no campo - teria evoluído da P. asymbiotica dentro do intestino de vermes e de mosquitos, aumentou bastante depois das análises genéticas realizadas no estudo. A presença da P. luminescens já foi identificada no organismo de 12 pessoas que vivem nos Estados Unidos e na Austrália. Certeza mesmo, os pesquisadores afirmam ter em relação a outra bactéria, a Yersina pestis, que também esteve sob análise. Os estudos genéticos realizados pelos autores do artigo da Nature, Nick Waterfield e Richard french-Constant, ambos da Universidade de Bath, e Brendan Wren, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, mostram muitas semelhanças entre a Y. pestis e o ancestral dela, a Y. psuedotuberculosis.
Patogênico milenar
Os resultados mostraram que essas bactérias estão envolvidas com um potente mecanismo patogênico presente em insetos há pelos menos 1,5 mil anos. Trata-se do bacilo Y. pestis, que no século 14 causou a peste bubônica ou negra - o nome é uma referência ao fato de os cadáveres ficarem enegrecidos. Em apenas cinco anos, a população da Europa sofreu uma redução de 75 milhões de pessoas para 50 milhões. No caso atual, os cientistas afirmam que o problema em relação à P. luminescens é nulo, porque os antibióticos existentes no mercado dão conta do recado. Segundo o trio de cientistas britânicos, o importante é que esses mecanismos utilizados pelas bactérias para se modificarem dentro dos insetos e dos vermes sejam desvendados, cada vez com maior precisão. — Os insetos são reservatórios importantes de doenças que podem atacar o ser humano e outros animais. Não bastasse isso, agora se sabe que eles estão também preparando novas doenças no interior de seus organismos que poderão surgir no futuro, disse Waterfield, em comunicado da Universidade de Bath. Para o cientista, o trajeto pode ser bem curto entre um tipo de bactéria que vive dentro de um inseto há décadas e um novo tipo de epidemia. Esse ponto de viragem evolutivo é que precisa ser melhor detectado. (Fapesp 26/10)